As redes sociais são palco de rupturas familiares, debates acalorados, palavras de ordem e ódio destilado, numa guerra civil de opiniões alimentada pela instabilidade política e econômica que enfrentamos no Brasil. Mapeando a dinâmica dessas conversas e a partir de exercícios de diálogo, o designer e consultor de inovação Sergio Bandeira criou um gráfico que classifica 4 perfis de interlocutores. Partindo de características humanas mais profundas tais como nossas afinidades, capacidade de tolerância e preconceitos, o consultor estruturou seu mapa partindo de dois eixos/perguntas:
- Você tem mais ou menos tolerância com o que é diferente?
- Tem maior ou menor afinidade com as opiniões dos outros?
O grau de tolerância aponta nossa capacidade de conduzir a interação com os outros. Quanto menor nossa tolerância, mais difícil será essa condução e vice versa. Já o grau de afinidade com a opinião alheia nos mostra se somos capazes de compreender e até aceitar os argumentos diferentes dos nossos ou se não temos essa abertura e portanto estamos fechados em nossos próprios argumentos. A partir desses eixos, o consultor define 4 perfis: o Extremista, o Manipulável, o Dialógico e o Questionador.
Segundo Sergio Bandeira essas são as características de cada um desses perfis:
- O Extremista tem baixa tolerância com a diferença e baixa afinidade com a opinião do outro. Só consegue conviver sem atritos com pessoas que compartilham as mesmas opiniões e por isso mesmo reforçam suas ideias. No diálogo, tende a ser enfático, debochado, violento e desrespeitoso, usando como arma a diminuição de seu interlocutor.
- O Manipulável tem baixa tolerância com a diferença mas tem afinidade com as opiniões de outros. São pessoas que seguem palavras de ordem, reproduzem discursos de grupos sem questionar. Buscam responsabilizar agentes externos e por isso aderem a teorias conspiratórias tanto negativas (que explicam as mazelas do mundo), quanto positivas (que prometem uma solução utópica quase mágica).
- O Dialógico tem alta tolerância com a diferença, mas não é flexível, em relação às suas próprias opiniões. Isso faz com que diante de um conflito, apresente soluções que levam em consideração a diversidade de perfis envolvidos. Por sua convicção pode às vezes ser visto como extremista, e por seu inconformismo pode buscar soluções simplistas.
- O Questionador tem alta tolerância com a diferença e é muito aberto ao discurso do outro. Quer ir além do simples consenso, questionando suas próprias opiniões e as opiniões que divergem das suas, para encontrar a essência do pensamento. Não se atém apenas aos contextos, buscando uma compreensão mais profunda sobre si mesmo e sobre o outro, por isso são mais raros.
Nós flutuamos entre esses perfis dependendo do contexto externo, de nosso estado de ânimo, da nossa maturidade, etc. Não são papéis fixos, embora possamos ter características mais acentuadas de um ou de outro perfil. Ainda assim, é evidente que os tipos Dialógico e Questionador, por sua alta tolerância com a diferença, são mais construtivos na busca de relações e soluções que nos façam avançar como grupo.
Uma análise como essa que parte da observação da dinâmica de nossas interações virtuais, buscando padrões e identificando características, que nos ajudam a compreender como estamos. Qualquer política de educação que pretenda construir uma sociedade mais justa para todos deveria pensar em ações para estimular a tolerância e a empatia com as ideias alheias. Exercitar o diálogo, pensar sobre a dinâmica do diálogo, encontrar as sutilezas e as possibilidades da diferentes estilos de diálogo, pode ser um caminho inovador para estruturar uma política pública de educação.
Se ficarmos apenas nos indicadores do PISA de matemática e português, se validarmos o debate sobre um ensino pretensamente não ideológico como quer a “Escola sem Partido”, ou se focarmos apenas no plano de carreira e salário dos professores com reestruturações orçamentárias nomeadas de reformas na educação, não construiremos futuro algum.
Educação pede um olhar aprofundado, na essência. Qualquer proposta nessa área tem que ser fruto desse mergulho para ser inovadora e efetivamente transformar.
Mauricio Zanolini
PS – Venham dialogar conosco no encontro do dia 14 de maio (em Jundiaí – SP):
- Educação no Brasil,da crise ao protagonismo. Quais os caminhos?
Uma parceria da Defensoria Pública com o Lar Anália Franco e a Universidade Livre Pampédia. Convidamos todos vocês! (Inscrições gratuitas pelo email – [email protected])