O advogado David R. Dow, especialista em defender condenados à pena de morte nos Estados Unidos, nos apresenta (em seu TED no vídeo abaixo) um denominador comum na vida da maioria de seus clientes – uma infância soterrada em múltiplas violências. Famílias despedaçadas, abuso sexual, violência física e psicológica, que levam à delinquência juvenil, ao crime, a uma ou mais temporadas em instituições “sócio educativas” onde o ciclo se repete. A resposta de David para quebrar esse ciclo é impedir que ele comece, ou ao menos pará-lo em seus primeiros movimentos, ainda na infância. Partindo do exemplo dele, fica patente que esse grau de violência é destrutivo, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade, mas e se o grau de violência for “mínimo”? Será que em pequenas doses, a violência é educativa e cria adultos saudáveis, e que só é destrutiva quando passa “do limite”?
Em um artigo publicado pelo Jornal de Psicologia da Família (Journal of Family Psychology – abril de 2016), pesquisadores da Universidade do Texas e da Universidade do Michigan nos Estados Unidos analisaram 50 anos de pesquisas sobre os efeitos da palmada na educação dos filhos. Aí somos apresentados ao lado negativo de um comportamento socialmente aceitável. Segundo a UNICEF, 80% das famílias no mundo usa de violência para educar seus filhos (dados de 2014). Elizabeth Gershoff, uma das pesquisadoras desse estudo nos diz que “nós, como sociedade, vemos a palmada e o abuso físico como coisas distintas, no entanto a pesquisa mostra que a palmada está associada às mesmas consequências negativas que o abuso físico, em um grau apenas ligeiramente menor”.
O que os pesquisadores classificam como palmada na pesquisa é o que nós chamamos por aqui de tapa – bater de mão aberta nas extremidades do corpo da criança (mãos, cabeça, pés, etc) ou nas nádegas. Para os pesquisadores, esse tipo de ação disciplinadora tem resultados opostos aos esperados pelos pais que aplicam a violência. Quanto mais palmadas, maior é a incidência de comportamentos antissociais, de agressividade, problemas de saúde mental e dificuldades cognitivas. Além disso, adultos que foram educados/disciplinados com violência tendem fortemente a repetir e validar esse tipo de atitude em relação a seus próprios filhos, num ciclo que passa de geração a geração.
Assim como no exemplo de extrema violência de David e seus clientes condenados à morte, é preciso buscar as causas estruturais para que possamos virar o jogo no combate à criminalidade, precisamos também olhar para nós mesmos e fazer uma reflexão e uma autocrítica. Seja como sociedade ou como indivíduos, nossa obrigação para com o futuro nos pede maturidade. Precisamos olhar as coisas como elas são, mesmo que fazer isso nos cause desconforto. Palmadas são sim uma forma de violência e toda violência tem terríveis consequências.
Mauricio Zanolini
Uma resposta para “O ciclo da violência entre a palmada e a pena de morte.”