Em casa, com meus filhos, temos o hábito de colocar a televisão no youtube.com e cada um escolhe uma música. Esse fim de semana, cada um deles colocou músicas de grupos que aqui chamamos da periferia e, nos EUA, das minorias. Duas realidades diferentes, mas o pano de fundo igual: guetos de pobreza, discriminação com negros e mestiços e um sentimento de impotência frente à violência daqueles que querem que essa situação perdure.
A violência nos vídeos era representada pela opressão policial, um sintoma evidente de que há forças repressoras em sociedades desiguais (a causa).
Nos vídeos em que vimos, temos a polícia como o agente de “colocar tudo em seu lugar” sempre em ação; algumas vezes usando a força bruta dentro de ações supostamente legais, como contenção de manifestação; algumas vezes agindo de forma ilegal com o seqüestro de algum líder comunitário, muitas vezes só garantindo que o garoto negro e pobre não ande por onde não deveria pensar em andar.
Vemos isso no Brasil e vemos isso nos EUA, país que expõe suas mazelas por meio da música e do cinema, porém, no Brasil muitas vezes, pela barreira do idioma, essas expressões culturais são consumidas como entretenimento. Assim, pode-se observar que o posicionamento da polícia como agente primeiro de repressão das minorias e dos excluídos é um fenômeno mundial.
O recrudescimento mundial das ações da polícia expõe o quanto adentramos em momento histórico difícil. A violência em si já é problemática, mas é preocupante o recrudescimento dos governos que lançam mão de sistemas violentos para o controle das massas, controles que atacam os descontentes com a exclusão e a falta de horizontes em sua vida, mas longe de atacar e resolver as causas desses sintomas tão perfeitamente compreensíveis por qualquer um que tenha empatia pelo outro.
Em outras palavras, polícia mais violenta não significa população mais perigosa, pelo contrário, é sintoma de sistema político social de exclusão e de manutenção sistemática desse sistema.
Quanto ao Brasil, bastam 20 minutos de telejornal para se verificar o que está acontecendo nesse sentido. A polícia, ao agir para manter a ordem das coisas, do jeito que está sendo usada, suscita duas vertentes também catastróficas: a primeira é a solução ultra direitista, com a instalação do Estado de exceção, a segunda é a revolta armada dos grupos.
Nenhuma das duas vertentes chegará a lugar algum, mas se fizerem qualquer movimento haverá muito estrago. Então, o que nos resta? Atacar as causas crônicas da desigualdade que assola o mundo, em particular no Brasil. Enquanto o sistema social, político e econômico promover exclusão, não haverá paz e o sistema dominante usará da força bruta para conter os descontentes, principalmente pela mão pesada da polícia.
Alexandre Mota