Civilizações na Europa e na Ásia se desenvolvem há milênios. Hoje, alguns dos países dessas regiões estão em situação privilegiada social e economicamente falando. E no imaginário brasileiro se destacam os países do norte da Europa e alguns de língua latina como paraísos sobre a Terra e exemplos do que deveria ser o Brasil.

Corriqueiramente leio textos nas redes sociais exaltando o nível de civilidade desses países-ícones e que muitos deles estão se tornando o novo endereço da elite brasileira, incluindo-se nessa lista também os Estados Unidos.

Vale lembrar que no século XX esses países ícones se envolveram em duas Grandes Guerras e foram abrigo de ditadores, no século XIX a população morria de fome e fugia para qualquer lugar onde houvesse a possibilidade de vida melhor, o Brasil foi destino de muitos desses fluxos migratórios; antes do século XIX as elites desses países viviam em conchavos políticos e religiosos de dominação da grande massa e em processos colonizadores e exploratórios.

Estamos na infância de tudo no Brasil! A confusão desse momento de novos desafios permite que parte da elite mais oportunista e que mantém muito o ranço colonialista aja de duas formas e, assim, contamine nosso ambiente, a saber: (i) pregam a radicalização do neoliberalismo como sendo o modelo que gerará mais riqueza e premiará os melhores (promessa que faz a classe média, inclusive a nova classe média, delirar em sonhos de que um dia atingirão o Olímpio e que abocanharão uma parte do bolo), (ii) ou pregam o abandono do país das boas cabeças pensantes e bem formadas, proclamando aos que ficam que nada há para ser feito nesse país de incapazes, fragilizando a estigma do povo e de todo o projeto de nação, que tem menos de 200 anos de liberdade do jugo colonial.

A tal civilidade do outro que exaltamos está sendo construída aqui nos embates que hoje têm mais visibilidade nas redes sociais, nas investigações de escândalos de corrupção, no escancaramento das distorções que fazemos entre o público e o privado, que são ainda tão arraigadas na cultura, nas instituições e nas leis.

O Brasil está em obras! Como toda obra, há o planejamento, elaboração dos projetos, cuidados com a execução, a escolha dos melhores materiais e, necessariamente, a participação de muita gente! Uma obra se ergue tijolo por tijolo, há de se ter paciência, há de se ter cuidado com os discursos que prometem o paraíso ou o inferno sem escalas!

O Brasil está vivendo um processo intenso de autoeducação, e isso não se faz com modelos prontos ou fórmulas mágicas. Também não se amadurece fugindo dos problemas, abandonando o país. O que nos faz brasileiros é algo intangível e inescapável, onde quer que estejamos seremos sempre brasileiros. Sejamos, pois responsáveis! Trabalhemos pela nossa própria autoeducação e na educação das novas gerações.

Alexandre Mota é mestre em hospitalidade, professor universitário e membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita