Dopar, domar, enquadrar e explorar: Os reais objetivos de uma Pedagogia Perversa!

Conversando com uma paciente de 09 anos, em determinado momento, perguntei:

  • Do que mais gosta, na sua escola?
  • Da hora do recreio.
  • E existe algum outro momento, também bacana, que escolheria para – ficar em segundo lugar?
  • Sim, quando faço educação física.
  • E para o terceiro lugar, o que escolhe?
  • A hora da saída.

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O diálogo é real. E, pior: se repete, dentro e fora do consultório.

Em pleno século XXI, crianças que estão inseridas em um contexto sócio-cultural repleto de estímulos e diversidades, sentem-se amarradas por laços perversos de uma pedagogia ultrapassada, pensada entre os séculos XVIII e XIX, sob forte inspiração iluminista, mas também, espartana, com discursos conteudistas, regras acachapantes e foices ideológicas, cortando no talo a força criativa dos pequenos.

A criança adentra o mundo escolar cheia de vida, de curiosidades e esperanças, saindo de lá como adulto formatado, opaco, sem condições de emprestar um sentido para tudo aquilo que o fizeram decorar ao longo dos anos, sob ameaças de canetas vermelhas, bilhetes, reuniões bimestrais e notas comparativas.

A este processo de angústia cotidiana deram o nome de “educação”. Porém já sabemos que o termo encerra, nele mesmo, muito mais e, em muitos momentos, sugere algo oposto ao que se faz na prática.

E o que temos visto, na atualidade, causa ainda mais espanto: quando o espírito infantil deseja alterar o quadro, com sua inquietação constante, resultado de uma causa anterior a ela mesma, ou seja, do meio opressor, passamos a rotulá-las e dopá-las, afinal, seria esta a única opção possível: responsabilizá-la pela falta de capacidade de submeter-se ao que lhe é imposto.

É agitada e não presta atenção nas tão importantes [e entediantes] aulas? Tem TDAH! Fica quieta demais, sem querer participar de nada? É depressiva!

Demonstra violência na fala, quando chamada ao dever? Sofre de transtorno de humor!

Após o diagnóstico, selando seu frágil destino, o próximo passo será medicar. E eis que vemos o crescimento meteórico das vendas de psicotrópicos tarja preta, com seus efeitos impressionantes…

Torno a dizer, como faço em outros artigos, que com esta fala não pretendo excluir os casos reais de distúrbios que, bem o sei, existem. Entretanto, os números apresentados sugerem uma epidemia avassaladora, totalmente fora da realidade possível. Medicalizar é tornar médico aquilo que é tão somente um efeito social. É dar remédios para alterar o que poderia ser a única coisa saudável na pessoa: sua capacidade de se opor ao que está verdadeiramente errado, e sim, isso está fora dela, pois surge nas teias sociais. Vamos, então, roubar da criança a única moeda de valor que carrega em si mesma: sua tendência atualizante, que, como nos explicou Carl Rogers, é sua força interior, aquela capaz de fazê-la desenvolver-se em plenitude, de acordo com suas potencialidades. Mas, como defender as crianças, se não defendermos antes os pais, e mesmo os professores, alertando-os a respeito do assunto?

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Recebo muitas famílias angustiadas, perdidas quanto ao tema. Nas escolas são bombardeadas pelos professores que, por sua vez, são bombardeados pelas exigências do MEC, que, por sua vez, pauta suas exigências no sistema, produzindo esta pedagogia jurássica, ensinada nas faculdades do Brasil afora para os até então idealistas e futuros profissionais da educação.

Frear este movimento alienante, que existe com o objetivo final de manutenção do sistema vigente, exige de nós um esforço constante. É preciso esclarecer pais e professores a respeito para, juntos, buscarmos novas saídas.

Propor cursos de base existencial, com fortes tons de humanidade, torna-se algo de vital importância!

A Pedagogia Espírita traz em si mesma esta bandeira, pois não fala tão somente sobre a necessidade de uma nova forma de pensar e fazer pedagogia, mas apresenta, antes disso, uma robusta crítica social, falando de uma dialética histórica, na qual o homem se faz através das influências do meio, mas também contribui para a mudança da realidade que o cerca – postura esta não encontrada nas propostas curriculares das universidades brasileiras, quando se trata desta ciência, em especial.

Precisamos salvar nossas crianças!

Mas, como fazê-lo se não nos dermos conta sequer dos perigos que elas correm?

Claudia Mandato Gelernter

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