Atualmente quando se fala em psicopedagogia, imediatamente nos vem à mente as terapias às quais as crianças são submetidas quando apresentam problemas de aprendizagem na escola. Por essa razão, pode-se ter a impressão que a psicopedagogia está a serviço do sistema. Mas essa é apenas uma vertente que, aliás, criticamos, já que entendemos que o papel dessa terapia não é fazer com que as crianças se adequem a sociedade, engolindo o sistema, para nele sobreviverem.
A psicopedagogia é mais do que isso. Ela se ocupa em estudar a aprendizagem humana e a influência do meio nessa aprendizagem.
Segundo Bossa, o objeto de estudo da psicopedagogia pode ser entendido por dois enfoques: o preventivo e o terapêutico. O preventivo considera o ser humano em desenvolvimento enquanto educável. Já o terapêutico focaliza possibilidades de aprender num sentido amplo, considerando não apenas a escola, mas também a família e a comunidade. Isso significa considerar a criança nos seus mais diversos contextos e na sua individualidade como um ser integral, dialogando com pressupostos do trabalho que desenvolvemos em projetos da Universidade Livre Pampédia. Dessa forma, o campo de estudo da psicopedagogia que tratamos aqui se expande e deixa de parecer que serve apenas ao sistema. Ele serve à criança.
Pense, por exemplo, no caso de uma criança.
Desse ponto em diante, o psicopedagogo terá que levar em consideração, em primeiro lugar, que é de conhecimento geral que os problemas de escola causam transtorno para a família, que não dispõe de tempo para acompanhar a criança na escola e, finalmente, para a escola que não pode ser colocada em cheque quanto à qualidade e eficiência de seu serviço.
Diante desses fatos há que se encontrar uma justificativa para o fracasso escolar. Para o bem estar de todos é sempre melhor que o problema esteja com a criança. Afinal de contas, se o problema não fosse da criança alguém seria o responsável. Não é à toa que as escolas recebem enxurradas de laudos e as crianças enxurradas de medicamentos.
Como alternativa a esse ciclo no qual a criança é a principal prejudicada, a psicopedagogia atua primeiramente oferecendo um olhar e uma escuta que a criança não tem recebido nem da escola e nem da família. Esse é o primeiro movimento e se traduz em aceitar e acolher a criança em sua essência, com todas as suas particularidades.
O atendimento individual e a busca de estratégias para ajudar a criança em sua aprendizagem já seriam receita para o sucesso num momento histórico em que a criança recebe diariamente milhões de estímulos e se espera que ela seja pacífica e obediente como se esperava no século XVIII.
As atividades ali propostas são elaboradas diante de uma perspectiva singular. A diversão e a satisfação são partes fundamentais desse processo tanto nos jogos, quanto nas brincadeiras e nos recursos de arteterapia que são utilizados.
Ora, é fácil entender que uma criança que não tenha dificuldades orgânicas rapidamente retomará o gosto pelo conhecimento inato ao ser humano. A proposta psicopedagógica, tomadas as devidas proporções, retoma o fundamental elemento que torna o conhecimento prazeroso e encantador: a liberdade.
A liberdade a qual me refiro, primordial ao ser humano e bem descrita nos termos de Educação no livro Liberdade sem medo (onde estão descritas as experiências da escola Summerhill) é a liberdade de expressão, artigo de luxo nas escolas tradicionais que a utilizam como moeda de troca, barganha ou em casos de delação premiada.
No espaço de terapia, a liberdade é extremamente valorizada por ser matéria-prima que permite a elaboração de uma intervenção adequada a cada caso.
No aspecto preventivo, a psicopedagogia tem muito a contribuir em orientação familiar no que tange às questões de uma rotina saudável, que estimule a criança a aprender desde a mais tenra idade – atividades e brincadeiras que desenvolvam a memória, a coordenação motora, as relações interpessoais etc.; atividades essas, que facilitariam o momento da leitura e escrita.
A Psicopedagogia dialoga harmonicamente com a Pedagogia Espírita, que tem suas bases na pedagogia de Pestalozzi e não só valoriza a individualidade da criança – o que não é possível sem exercer a liberdade -, mas também orienta, principalmente a mãe nas atividades de aprendizagem de seu filho desde a mais tenra infância.
Psicopedagogia e Pedagogia Espírita dialogam também quando apresentam bases para a construção de uma escola mais humana. Uma escola que vê e ouve o indivíduo em suas necessidades e potencializa os processos de aprendizagem pelo cuidado na elaboração de propostas mais afinadas com o ritmo e demanda de cada turma.
Acredito que essa parceria tem muito a acrescentar na construção de uma escola, numa instituição ou na elaboração de um itinerário pedagógico.
Claudia Mota
Adorei a divisão em psicopedagogia preventiva e terapêutica e o quanto a psicopedagogia preventiva poder fazer pelo aluno, pela pessoa que necessita aprender a usar e expressar sua liberdade e ao mesmo tempo manter uma convívio coletivo.
Adorei o diálogo com a Pedagogia Espírita e retomada dos princípios de Pestalozzi trazendo o ser humano pro centro das preocupações, no lugar de força-lo a adaptação a um sistema de ensino industrial e em série, como linha de produção.
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Sou psicopedagogo e espírita e concordo completamente com o Claudia .
A psicopedagogia é sem sombra de dúvidas um reforço para a pedagogia espírita.
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