As drogas convivem com a sociedade desde sempre, do uso medicinal ao recreacional, passando pelo religioso, é possível rastrear seu uso por seres humanos até a Antiguidade.
Qual então o problema do uso de drogas se é algo que acompanha a história da humanidade?
As respostas são inúmeras. Entre elas, está a de que não há problema algum com o uso de substâncias que causem dependência física e psíquica. Porém, verifica-se que é um problema de saúde pública, que impõe aos governos de países uma série de ações de combate ao uso, sem entrar no mote da produção e distribuição ilegal, que afeta a vida das pessoas em diversos níveis, usuárias ou não.
Escutava a Rádio USP FM e entrou um programa sobre pesquisas que estão constatando que o uso de drogas por jovens, além dos problemas já difundidos sobre a dependência física e psíquica, é mais prejudicial do que o uso por adultos. Em jovens, o uso afeta severamente a constituição dos sistemas cerebrais, muito deles ainda em formação quando do início do uso das substâncias, inclusive álcool.
Fui pesquisar sobre esse assunto, mas ler artigos médicos não é fácil para um leigo, ainda mais na linha de trabalho do estudo citado pela USP FM. Mas achei um artigo interessante de Marques e Cruz de 2000, publicado pela Revista Brasileira de Psiquiatria; esse artigo possui todos os termos técnicos e específicos da medicina, que dificultam o entendimento de um leigo, porém no meio do texto, há uma passagem interessante e que está relacionada aos jovens e seu convívio social.
Os autores destacam que jovens, ao utilizar drogas, não esquecendo que nesse universo o álcool faz parte, eles se expõem a situações de risco ligadas à violência e a acidentes mais do que os usuários adultos; a justificativa é o fato dos jovens ainda estarem construindo e apreendendo seu senso de conservação (uma citação direta ao famoso “sem noção”!).
Jake Bugg canta (vídeo) a aventura de jovens que tomaram “uma ou duas pílulas” para se divertirem noite afora. A letra dessa música é direta, sem metáforas, e acaba tragicamente. O personagem principal teve até um mau pressentimento, porém ele e os amigos ficaram na festa, um sinal, talvez, desse senso de conservação ainda em desenvolvimento. Interessante notar que JaKe Bugg não é um cinqüentão apontando o dedo para os jovens em tom de represália, mas era um garoto de 16 anos, quando compôs a canção.
Acompanhar o dia a dia de um jovem é difícil nos tempos de hoje. Não temos controle total do que acontece, o que nos impõe mais atenção em perceber seu comportamento e o provável uso de drogas. Os fatores de risco que levam ao consumo de drogas são amplos e estão assim destacado por Marques e Cruz: “Segundo Newcomb (1995), os fatores de risco para o uso de drogas incluem aspectos culturais, interpessoais, psicológicos e biológicos. São eles: a disponibilidade das substâncias, as leis, as normas sociais, as privações econômicas extremas; o uso de drogas ou atitudes positivas frente às drogas pela família, conflitos familiares graves; comportamento problemático (agressivo, alienado, rebelde), baixo aproveitamento escolar, alienação, atitude favorável em relação ao uso, início precoce do uso; susceptibilidade herdada ao uso e vulnerabilidade ao efeito de drogas”.
O fim do artigo cita uma série de tratamentos, mas um traço comum é a presença da família nos processos. A presença da família tem duas vertentes de análise: apoio e carinho é a primeira; a segunda é que a situação estrutural da família pode ser um dos motivos de desequilíbrio do jovem. Assim, a família precisa passar pelo processo junto com ele, seja no caso de apoio, ou seja, de uma reabilitação conjunta.
Mudando o enfoque da causa e efeito para prevenção: a educação do ser humano, com uma visão integral, não pode negligenciar que há o risco das drogas na vida de qualquer um e deve-se preparar o ser para enfrentar as dificuldades do mundo; podemos citar métodos que visam ao ser integral, como a de Pestalozzi, por exemplo; mas esse é um processo que começa cedo e perpassa toda a juventude e deve criar ecos na maturidade. Esse tipo de visão é contrária à visão utilitarista da educação (conteúdo: ou você sabe ou não sabe), e faz com que educadores enfrentem problemas além das paredes da sala de aula, querendo ou não!
Alexandre Mota