Já falei aqui sobre sobre o desastre ambiental que matou o Rio Doce em Minas Gerais. Agora gostaria de chamar a atenção para o modo de pensar que leva a esse tipo de resultado desastroso. Para isso, vou me apropriar desse TED onde Naomi Klein, ativista e autora de livros sobre o poder de influência das marcas e as constantes crises do capitalismo, fala sobre nossa insistência em apostar como o que é insubstituível.
Em sua palestra, ela compara a negligência que levou ao vazamento de óleo no Golfo do México em 2010 com a estratégia de militarizar este ou aquele grupo de insurgentes em países em guerra civil, que depois se voltam contra aqueles que os patrocinaram, num ciclo vicioso interminável de espionagem e contra-espionagem, ou ainda as bolhas no mercado financeiro que geram crises e exigem rios de dinheiro para sanar o sistema bancário. Todas essas circunstâncias têm em comum a imprudência.
Sem dúvida, podemos listar uma série infindável de argumentos que explicam, embasam e absolvem tais ações, mas a sedução do risco, tão cara ao capitalismo, precisa ter um limite – o risco de extinção da espécie humana. As mudanças climáticas apontam para tal desfecho, mas mesmo assim nosso discurso e nossa ação continuam em inércia.
Para Naomi Klein, existe um componente cultural muito arraigado que nos alimenta em nossa busca por mais e mais. Essa narrativa, essencialmente masculina, da conquista da fronteira, da vitória na batalha, da recompensa nos braços de uma mulher / mãe / natureza, eternamente provedora, nos cega para os limites de nossas ações.
As corporações formam líderes que olham para si mesmos como protagonistas de uma narrativa épica de busca de felicidade e harmonia, que será alcançada através da análise de custo/benefício e da coragem diante dos riscos, estapeando a mãe natureza na cara, inebriados em nossa autoestima. Nesta grande aventura, a natureza é vista como o outro, o inimigo, o território a ser conquistado. Esquecemos que somos um com ela, e tudo o que fazemos a ela, estamos fazendo a nós mesmos.
Como enfatiza Naomi, precisamos substituir essa narrativa linear de crescimento infinito por narrativas circulares de causa e consequência, de liberdade e responsabilidade em igual medida. Só temos esta casa, esta Terra. Nada justifica colocá-la em risco.
Mauricio Zanolini
Maurício… seu texto está muito bom, a sua frase: “(…) a natureza é vista como o outro, o inimigo, o território a ser conquistado (…)”, diz tudo sobre a imprudência e descaso da nossa civilização. Parabéns!
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Pensó así Cervantes cuando escribió Don Quijote, respecto a los libros de caballería!
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Muito bacana o texto! Tem um tempo que venho estudando esta questão das narrativas que acreditamos como sociedade e adorei me deparar com este conteúdo e que sincronicamente foi publicado no dia final do desafio literário nanowrimo, aonde muito se falou sobre isso. Vou compartilhar o post!
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