A ciência é a busca pela compreensão daquilo que é universal. A arte é a busca pela universalidade de nossa experiência individual. Com essa provocação, a médica Mae Jemison, a primeira mulher negra a participar de uma missão espacial, nos convida a pensar na incoerência que é a separação entre o intuitivo e o analítico, entre o real e o ideal.
Em 2002, Mae falou no TED sobre a possibilidade de ensinarmos arte e ciências juntas como uma forma de avançarmos de forma consistente para um futuro mais criativo. Afinal a criatividade é a chave que une essas duas pontas. Ken Robinson em sua famosa fala no TED, nos mostra como a escola mata a criatividade. E podem apostar que sem criatividade as ciências não vão a lugar algum.
Na educação tradicional, existe uma divisão muito clara entre ARTE e CIÊNCIAS, e essa divisão não é apenas a separação de cada uma delas em aulas diferentes que não conversam entre si, mas é também uma divisão hierárquica. Como o principal objetivo da escola é preparar o aluno para o mercado de trabalho, as ciências têm primazia, pois o senso comum nos diz que o pensamento analítico, pragmático que proponha soluções a partir do real é o único caminho para o progresso. O lúdico e as brincadeiras ficam segregados aos primeiros anos escolares (o que já é um avanço), mas os ENEMs e os vestibulares forçam o ensino fundamental e médio a mudarem de rumo, mesmo com todas as mudanças que estão acontecendo no mercado de trabalho.
A filosofia, filha da arte e mãe da ciência, passou a ser considerada menor que sua cria, já que ela navega pela percepção do ser em relação ao que lhe é externo. A física teórica também se aproxima dessa visão. Mae Jemison cita Albert Einstein que disse: “A coisa mais bela que podemos vivenciar é o mistério. É a fonte fundamental de toda verdadeira arte e de toda ciência.” As ciências que permanecem na escola são as pragmáticas lógico/matemáticas (medidas pelo PISA), as biológicas que se espelham na visão mecanicista da medicina e as humanas que tem no materialismo histórico seu totem. Esses três paradigmas olham para problemas complexos e formulam soluções simples, olham para a natureza e a dividem em partes até que elas não tenham mais relação com o todo, e olham para as relações humanas e elegem apenas algumas diferenças, eliminando toda a riqueza e a diversidade, reduzindo e rotulando.
A arte sonha o futuro. É ela que nos comunica, sem palavras ou fórmulas matemáticas, quem somos e quem queremos ser. A arte dialoga com a cultura e, portanto, com todos os aspectos da vida humana. Ela nasce da religiosidade, do ritual, da relação do homem com o mistério. Ela é fonte de valores éticos, de princípios universais. Mesmo que a arte contemporânea sofra forte influência das filosofias que destruíram os valores clássicos, a busca pelo BOM, o BELO e o VERDADEIRO são ainda a base para a formulação de conceitos que descortinarão o nosso futuro como humanidade. A fusão entre ARTE e CIÊNCIA é crucial para forjarmos esse futuro.
Mauricio Zanolini
Adorei indicação das palestras no TED!
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