Karen Armstrong, autora do livro “Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo”, comenta sobre um fato alarmante, gerador de enorme angústia na era da modernidade, e que segue firme também na pós-modernidade: o surgimento de uma devoção desenfreada aos textos sagrados, por parte de militantes radicais, combatentes ferrenhos do pluralismo, da tolerância religiosa, da paz internacional, da liberdade de expressão, da separação entre Igreja e Estado etc. Embora este conceito tenha nascido somente da década de 70, com a postura enrijecida dos religiosos iranianos, sabemos que os fundamentalistas existem desde muito antes, em todas as religiões. Talvez tenham surgido até mesmo junto da primeira religião formal, e seguem atuando no mundo, criando rupturas, desespero e morte por onde quer que passem, pertençam a qualquer ideologia que seja.
Entretanto, vale dizer que o fundamentalismo não se circunscreve às religiões, tão somente, embora os estragos, quando se trata deste setor em particular, sejam os mais desastrosos. Na verdade, existem fundamentalistas nos mais diversos setores humanos, podendo ser encontrados dentro de sistemas filosóficos, políticos, científicos e até mesmo nas questões relacionadas à alimentação. São todos aqueles que abraçam determinados conceitos, fechando olhos e ouvidos para qualquer outra opção que exista no mundo. Enclausuram-se em sistemas rígidos, entendendo que o mundo precisa pensar como eles, mudando de postura radicalmente, sem levarem em conta que saberes e práticas dependem de histórias construídas, ao longo do tempo, e não de imposições vindas de outras mentes.
E, se o assunto alimentação tem merecido destaque na atualidade, não é menos verdadeiro que tribos específicas já se formaram, cada qual com sua bandeira particular. Existem os que defendem com unhas de dentes que, para sermos saudáveis, precisamos nos alimentar de carne vermelha e derivados animais. Do outro lado da moeda, um número cada vez mais crescente de vegetarianos e veganos, traz evidências robustas de que a ideia é diametralmente oposta: o carnivorismo é nocivo à nossa saúde e à saúde do Planeta, como um todo.
A verdade é que, se existem carnívoros que atacam vegetarianos e veganos, chamando-os de radicais verdes, não é menos verdadeiro que existem vegetarianos e veganos radicais, que forçam a barra neste assunto, atacando aqueles que não desejam ou não conseguem mudar os hábitos alimentares, por agora.
Nada mais chato que ser julgado por algo que ainda não faz sentido, ou mesmo por alguma coisa que já se tentou mudar, sem força para tanto. Soubessem o desserviço que ocasionam os fundamentalistas da alimentação [ou de qualquer outro setor, por certo fariam diferente, pois muitas vezes afastam as pessoas de determinadas ideias, verdadeiramente legítimas, coerentes e valiosas por se comportarem de forma radical, bruta, coercitiva.
Radicalismos não são bem-vindos aos que pensam com alguma criticidade, sendo assim, acabam por afastar bons semeadores da causa do bem, seja nas questões religiosas, filosóficas, científicas ou, como aqui destacado, alimentares.
Aproximando esta reflexão das práticas propostas na Universidade Livre Pampédia, reforçamos que, assim como já acontece em todas as atividades e aulas deste espaço, também quando falamos em Oficinas de Alimentação Vegana, com suas aulas práticas e expositivas, todos os conceitos e propostas relacionadas são passados com respeito, preservando o direito de escolha de cada um.
Busca-se proporcionar novas vivências gustativas, um experimentar de outras possibilidades, conceitos e ideias, sem apontamentos particulares ou julgamentos descabidos.
Antes de mais nada, possibilitamos uma experiência de estranhamento e possível reconstrução àqueles que ainda não estiveram diante de determinados conteúdos ou receitas.
Uma proposta existencial, assim como acontece nos tantos assuntos tratados dentro do nosso espaço, sem violências ideológicas, claro.
Já sabemos da necessidade de darmos especial atenção aos nossos hábitos alimentares, por diversos motivos, que, aliás, serão colocados neste Blog, em textos posteriores. Sendo assim, a Universidade Livre Pampédia, dentro do paradigma comeniano, visando ensinar tudo a todos, estará engajada também nesta questão, que redunda em tantas outras, tão urgentes e importantes.
Dentro desta perspectiva, cabe dizer ainda que serão oferecidos, aos alunos que vierem a se hospedar na chácara São Cristóvão, não apenas as aulas e oficinas, mas uma alimentação vegetariana, orgânica e amorosa, em todos os encontros, mantendo a coerência necessária com os paradigmas nos quais nos apoiamos.
Sem fundamentalismos, e com muito respeito. Sempre.
Claudia Mandato Gelernter
Sinceramente, não entendi o que você quis dizer. Afinal, qual ideia você defende no texto?
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Boa noite, Claudia. Defendo que qualquer ideia deve ser passada com respeito, sem imposições. Destaco a questão alimentar, porém todo tipo de fundamentalismo é aqui entendido como nocivo. No tema “alimentação saudável”, temos visto pessoas atacando outras, julgando suas escolhas com severidade, o que para nós é descabido. Finalmente, explico que no Espaço Pampédia oferecemos oficinas de alimentação com aulas teóricas e práticas, dentro da perspectiva vegana, mas sem forçarmos crenças ou práticas, tampouco emitindo julgamentos com relação as escolhas de cada um. Tudo se dá de forma tranquila e respeitosa.
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