A emoção é uma característica humana inescapável. Nós sentimos e manifestamos aquilo que sentimos, mesmo quando ressignificamos nossos sentimentos a partir de um ponto de vista mais amplo no tempo e no espaço. Diante das situações, das notícias, das dificuldades, nós reagimos emocionalmente. A razão vem depois para filtrar e equalizar as coisas. Essa é a condição humana.
Essa emoção é o gatilho que nos conecta a um determinado assunto ou tema. Depois usamos a razão para o aprofundamento e o estudo de nosso objeto de interesse, mas seguimos sempre movidos pela paixão, que nos ajuda a manter o foco e persistir. E é essa mesma paixão que dispara uma postura defensiva e autoritária quando nosso assunto ou tema é questionado ou diminuído por alguém de fora. Em geral, é na adolescência que vivemos as experiências que nos ajudam a encontrar o equilíbrio entre nossas paixões e as paixões dos outros seres humanos que nos rodeiam. É nessa fase que desenvolvemos a habilidade de construir argumentos, e são esses argumentos que mais tarde vão expressar nossa visão de mundo.
Argumentos são afirmações e justificativas, premissas e suas consequências, que declaram uma determinada conclusão. Eles podem ser rasos ou elaborados, mas necessariamente são ancorados na razão, que é uma característica humana universal. Mesmo que as experiências individuais imediatas de cada pessoa levem a visões particulares sobre um determinado tema, a razão está acima dos pontos de vista, e por isso está em consonância com a empatia, que também é universal. Ainda assim caímos constantemente na armadilha de, diante de um argumento de autoridade, respondermos com outro argumento de autoridade. Vejam um exemplo prático disso no vídeo abaixo:
Em seu comentário, Nana Queiroz nos fala sobre o perigo do argumento politicamente correto como oposição ao discurso de ódio. Como as duas posturas são críticas e julgadoras, não existe espaço para o acolhimento e a empatia que, em essência, seriam os verdadeiros opostos a qualquer argumento de segregação do outro.
Outro exemplo clássico dessa patrulha de combate ao autoritarismo alheio é o tipo de comentário que nas redes sociais se atiram aos quatro ventos. Diante de uma postura contra ou a favor algum assunto logo vem um rótulo para diminuir a pessoa que se posicionou. Esse tipo de retórica é conhecido como falácia ad hominem, e sua mecânica é atacar o interlocutor e não o argumento do interlocutor. Serve também para o caso onde a pessoa não é nem contra nem a favor, por entender que o assunto é mais complexo, e logo é rotulada como “em cima do muro” ou sem opinião. Pode ainda pode ser invertida, quando uma figura de autoridade, que é vista como um salvador ou um santo, comete um erro, e qualquer tentativa de apontar esse erro passa a ser desqualificada, já que “não se pode criticar uma pessoa assim tão boa!”
Variações dessa mesma lógica são por exemplo quando desqualificamos a construção argumentativa do outro apontando para uma nota mais emotiva dizendo algo como – “usou palavras duras para pedir mais amor, perdeu a razão”. Ou ainda quando em oposição a argumentos carregados de sentimentos de urgência ou indignação, evocamos figuras de autoridade muito além de nós mesmos, tipo – “pense no exemplo de Jesus…”. Julgamos, rotulamos, atacamos, sempre olhando de cima para baixo, mesmo quando nossa causa é justa como no caso das minorias de que fala Nana Queiroz.
Razão e empatia são capacidades universais dos seres humanos e enquanto a primeira é o filtro de nossas respostas emocionais atávicas, a segunda é a escolha consciente por uma conexão emocional profunda. É como um caminho dialético de tese (explosão emocional), antítese (filtro da razão) e síntese (escolha pela empatia). Mas é preciso aqui fazer uma ressalva. Ter empatia não significa concordar ou aderir a ideia do outro. Acolher argumentos contrários aos seus não significa validá-los. A empatia portanto não é uma postura passiva e não crítica, ela é a construção de uma ponte onde se dará o diálogo. Em um embate de ideias a razão e a emoção vão emergir como críticas, argumentos explicados com palavras ásperas, pré-conceitos e possíveis julgamentos. O papel da empatia é compreender o ser humano que está ali expressando suas ideias, fazendo com que o diálogo seja direcionado de pessoa para pessoa, e não de rótulo para rótulo.
Não é fácil chegar nessa síntese, mas parece que está cada vez mais claro que é esse o único caminho para a tão sonhada sociedade de paz.
Mauricio Zanolini
Talvez o exercício da retórica seja difícil porque não é exercido nos lares, nas escolas, na sociedade em geral. Parece que ficou restrito aos diplomatas. Trabalhei como pedagoga voluntária com crianças e jovens em situação de risco em uma Ong e com crianças e jovens de classe média, em uma casa espírita e em ambos havia uma dificuldade muito grande de diálogo. Um dia, desenvolvi uma pesquisa para saber por qual motivo isso ocorria e descobri que os adultos não conversavam com eles a não ser para dar bronca. Parece que a sociedade não acha importante dialogar com crianças e jovens a não ser para ditar regras. assim fica difícil se tornar um adulto empático e sensato. Em outras palavras, vamos levar o diálogo para todas as camadas e faixas etárias.
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PARABÉNS PELO TEXTO, MAURÍCIO!
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