De onde viemos e para onde vamos

Numa entrevista recente para o canal JUSTIFICANDO, o professor Alysson Mascaro (que é parceiro de longa data da Universidade Livre Pampédia), nos elucida sobre a evolução e os rachas no pensamento de esquerda e sobre a oportunidade que vivemos hoje de construir um novo paradigma para o país. O professor Mascaro aponta o pós capitalismo como caminho para esse futuro, ainda que na visão dele, diante da força opressora do capital, tal caminho nos levará a perder mais uma vez, mas de forma melhor.

À parte o pessimismo cauteloso da visão de Mascaro, o pós capitalismo é uma novidade interessante. Por todo o mundo, surgem movimentos pontuais que avançam esse conceito e vão desenhando um mundo novo. A maior parte dessas iniciativas é consequência do aumento da consciência das pessoas sobre as intrincadas redes de relação que formam nosso mundo globalizado. No quadro abaixo estão os principais expoentes dessa nova corrente:

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A tecnologia desenvolvida principalmente nos anos de 1980 tem um papel fundamental nisso tudo. O aumento exponencial da capacidade de processar informações e a interligação dos países via cabos de fibra ótica criaram um cenário jamais imaginado. Hoje é possível conhecer em tempo real as mazelas dos cantos mais esquecidos do mundo e por isso é cada vez mais difícil fechar os olhos para elas. Não podemos mais nos alienar, não sem um certo grau de desconforto, graças a nosso impulso social que nos mantém conectados à internet, recebendo uma centenas de informações todos os dias.

O mesmo contexto que permite uma enxurrada de críticas a uma foto de um caçador de leões africanos ao lado de sua presa, também nos leva a saber mais sobre nossa alimentação, mudando nossos hábitos de consumo e obrigando as empresas a repensarem suas estratégias de negócios. Nos anos 1990, por exemplo, empresas como a Coca Cola imaginavam que o próximo passo para seus produtos seria vender máquinas que produziriam diferentes sabores de seus refrigerantes nas casas de cada consumidor. Hoje a realidade mostra uma queda brusca no consumo desse tipo de bebida e faz com que a empresa invista em alternativas “saudáveis”.

Embora o capitalismo transforme tudo em produto, até mesmo a demanda por um mundo mais justo, os movimentos pós capitalistas afetam a escala da produção, desconstruindo a centralização de poder nas mão de poucos. A produção de alimentos orgânicos e a chamada economia colaborativa e de troca privilegiam a comercialização de bens produzidos localmente, se preocupam em saber mais sobre a cadeia de produção e boicotam empresas que tenham alguma relação com condições de trabalho escravo ou que afetam negativamente o meio ambiente.

No início do século XXI, a indústria automobilística acreditava que o futuro de seu modelo de negócios seria aperfeiçoar a logística da produção a um tal ponto que seria possível para o consumidor final montar seu próprio carro pelo site da empresa, escolhendo peças e acabamentos que fariam com que o produto tivesse a personalidade do comprador. Hoje, essa indústria caminha para o fim do automóvel como um bem de consumo. O transporte tende a ser um serviço, seja através do aluguel de carros ou da proliferação de serviços de transporte como o do aplicativos como o Uber.

Essa nova consciência afeta nossas relações de trabalho, a maternidade e a paternidade, a educação e a democracia no mundo todo. A política e as ideologias que herdamos do século XX não foram pensadas para um mundo que cada vez mais democratiza os meios de produção (como por exemplo as impressoras 3D), capilariza os investimentos diretos (via financiamentos coletivos), valoriza a transparências na ação dos Estados (impondo o fim dos paraísos fiscais) e atua na sociedade de forma direta  (via ONGs).

A rede, a velocidade e o acesso são os pilares de um novo paradigma nas relações humanas globais. A economia, a política e os costumes já estão sendo irremediavelmente afetados por tudo isso, e o levante conservador que resiste às mudanças é apenas um indício de que elas estão em curso. Um novo renascimento, cultural, social, econômico e político  se avizinha. O novo sempre vem!

Mauricio Zanolini

Uma resposta para “De onde viemos e para onde vamos

  1. Que bom encontrar esse texto. Há tempos venho pensando que o conceito de compartilhamento e colaboração pode mudar o capitalismo de dentro para fora, ao contrário das tentativas de se chegar a um socialismo à força, que se tornaram tiranias em alguns países. O desejo de colaboração e compartilhamento vindo de dentro do indivíduo é mais difícil de ser corrompido. O capitalismo vai precisar achar um novo caminho.

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