O termo “corrupção” surgiu a partir do latim corruptus, que significa o “ato de quebrar aos pedaços”, ou seja, decompor, deteriorar. Extrapolando essa definição podemos pensar a corrupção como uma ação que divide e separa aquilo que antes era, ou se reconhecia como, uma coisa só, íntegra. Agir, portanto, de maneira corrupta é em essência impor a fragmentação de nossa integridade, a divisão de nós mesmos e, assim provocar também a divisão social, reforçar a diferença, polarizar.
Seguindo esse raciocínio, podemos associar a corrupção à competição. Dentro da lógica de mercado, que estimula o individualismo e o consumo partindo da narrativa masculina do herói que vive sua epopeia única, contra tudo e todos, a corrupção é um ponto extremo, mas que está na mesma chave. Para vencer vale corromper-se, ou como se diz comumente, todo mundo tem seu preço.
A ética já funciona em uma outra chave. Agir eticamente pode até ser exemplificado em ações aqui e ali, mas acima de tudo a ética é uma disposição, uma escolha ampla, profunda, consciente, que funciona como um escudo. Diante de uma situação em que somos estimulados a nos corromper, a disposição para a ética nos alerta, nos mostra as consequências coletivas dessa quebra e nos estimula a escolher o caminho da unidade. O olhar da ética é responsável, empático, focado naquilo que nos iguala. A economia colaborativa, a responsabilidade social, os direitos humanos e o engajamento com a sustentabilidade de todo o planeta são decorrências dessa disposição.
Hoje, no país, por todos os lados, somos bombardeados com deterioração, adulteração e devassidão. Nos sentimos mergulhados num inferno astral de proporções épicas. Se de um lado, aqueles que escolhemos para nos governar usam de subterfúgios escusos em nome de um pragmatismo que sufoca qualquer ideologia; de outro, os bastiões da legalidade abusam de seus poderes, têm telhado de vidro ou estrangulam o país, apostando no caos. As acusações de lado a lado escalam de mídia golpista e conspiração da CIA de um lado a doutrinação marxista e disposição antidemocrática do outro. O ódio é a moeda corrente, que alimenta a separação em nome do bem contra o mal. A corrupção que tanto nos indigna é a ferramenta que escolhemos para manifestar essa mesma indignação.
Não construiremos nada novo se insistirmos que a mudança deve ser imposta a partir do acirramento da divisão. A agressividade, o rompimento dos laços, a radicalização, são posturas corruptas, porque nos deterioram, e que aprofundam nossos problemas numa espiral sem fim. Para que tenhamos alguma chance de um futuro melhor, precisamos mudar de chave. Se a nossa bandeira é a ética, abracemos o que lhe é próprio. Mais consciência coletiva, empatia e colaboração e menos ódio.
Mauricio Zanolini