Martin Buber (1878-1965) – filósofo, jornalista e teólogo judeu – diferenciou três tipos de comunidade:
- a comunidade natural, que é consequência das primeiras aglomerações humanas e reúne compulsoriamente os homens na busca de melhores condições de vida ante a opressão da natureza.
- a comunidade fragmentada que é a associação de indivíduos em contextos específicos como o trabalho, a religião, o partido, como se vivêssemos várias vidas distintas numa mesma existência.
- a comunidade autêntica, na qual as relações entre os indivíduos acontecem pela vontade de forma imediata, independente de singularidades como profissão e gostos, e além disso acontecem de forma total, em todas as dimensões do homem – física, espiritual, afetiva, cognitiva. A ligação se dá na essência, na igualdade.
Hoje, conceitos como diversidade, inclusão e sustentabilidade, evidenciam a necessidade de se construir uma nova forma de vida comunitária, o que reforça a ideia da comunidade autêntica que para Buber é a inevitável sociedade do futuro.
Para que os educadores construam essa nova comunidade através da relação destes com os educandos, Buber propõe algumas ideias. Entre elas a construção de um vínculo fraterno entre os professores/orientadores/tutores/mediadores, voltada para o outro, profunda. A construção de uma relação comunitária entre educandos e educadores, que permita a um experienciar a visão do outro invertendo os papéis. A interação das diferenças (singularidades), como as de gênero e de faixas etárias, com troca de experiências e empatia.
As propostas de educação alternativa que buscam a autorrealização, a autonomia e a produção de conhecimento a partir de uma nova epistemologia devem mergulhar na construção de uma comunidade autêntica para que as mudanças sejam mais profundas, indo além da crítica à certificação institucionalizada do conhecimento.
Neste contexto, cito aqui o encontro que acolhemos no nosso espaço. Um encontro sobre Doutorado Informal – proposta de Alex Bretas, um desses jovens que vem inovando o conceito de educação, como André Gravatá, Gérman Doin e outros que participaram do II Congresso de Educação, Espiritualidade e Transformação Social no semestre passado, promovido por nós.
A proposta do Círculo de Doutorandos Informais (CDI), primeiro de uma série que já tem mais algumas datas agendadas pelo Brasil, é promover o encontro de pessoas diferentes, provocar conversas significativas e a partir dessa interação mapear as motivações, as dúvidas e os caminhos possíveis para dar vazão a um projeto de vida / doutorado informal.
A informalidade desse Doutorado proposta nos CDIs é consequência do projeto e futuro livro de Bretas –Educação Fora da Caixa – que investiga formas de produção de conhecimento motivadas pela paixão, pela aprendizagem em oposição às formas burocráticas e ao jogo político que norteia parte da produção acadêmica nas Universidades.
No encontro, pessoas com diferentes visões de mundo se conheceram para expor suas biografias de aprendizagem, o mapa cronológico da construção do conhecimento, dos erros e acertos de cada indivíduo, sem filtros, contando com a escuta atenta e sem julgamentos de completos desconhecidos.
Esse movimento de entrega e vulnerabilidade foi o primeiro passo para a revisão dos medos e das motivações que influenciaram e ainda guiam nossas dúvidas e decisões. Ser acolhido e acolher histórias de vida é ao mesmo tempo profundo e inspirador.
Na sequência do encontro, compartilhamos os sentimentos e as percepções sobre essa abertura que nos fez mais conscientes e mais centrados. Foram colhidas palavras aqui e ali que apresentadas assim soltas ao final dos comentários fizeram uma costura, ligando pontos, buscando sentido.
Com foco nos projetos pessoais, se desenharam propostas como manchetes de jornal, vendidas e compradas, escolhidas, votadas. Chegamos a quatro propostas e nos agrupamos em torno delas, discutindo passado, presente e futuro. Mapeamos a trilha de cada projeto e adivinhamos seus próximos passos. Por vezes ainda nem havia projeto, em outras só faltava veemência no incentivo.
Uma vivência de poucas horas intensas e saímos dela mais acordados, com planos mais claros e fortalecidos por novos elos e novas ideias.
Penso que todo projeto de produção de conhecimento deveria ser arejado assim, de forma colaborativa, por pessoas de escuta atenta. Passar pelo filtro de olhares diversos é um exercício muito rico, traz um frescor para ideias empoeiradas, desfaz mitos e aponta novos caminhos. Em propostas assim, a autonomia em relação a instituições tradicionais de ensino se alia a processos colaborativos e trabalho em rede criando um sentido de comunidade.
O trabalho colaborativo e em rede é o novo paradigma deste nosso jovem século XXI e a iniciativa dos CDIs de Alex Bretas é um belo começo!
Maurício Zanolini
Olá amigos, como faço para me inscrever rm um dos cursos?
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Olá Ângela, estamos em fase de construção dos itinerários formativos. Por enquanto, o curso presencial disponível que se inicia é o de Pedagogia Espírita, cujas inscrições começam dia 6 de janeiro. Abraço
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Como temos acesso agenda dos circulos, vai ter algum aqui em Brasília?
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Olá Sheyla. Os Círculos de Doutorandos Informais são uma iniciativa do Alex Bretas. Entre em contato com ele para mais informações sobre os próximos encontros:
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A cada nova publicação me apaixono mais por estas ideias.
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