Nick Hanauer participou da fundação e do financiamento de mais de 30 empresas de diversos setores. Sua fortuna acumulada o coloca no 1% dos habitantes do planeta que possuem a mesma renda que os outros 99% das pessoas. Apesar de se autoclassificar como um capitalista sem sentimentos de culpa, Hanauer é um dos principais críticos da política econômica moderna. Ele entende que a menos que se faça algo para reverter o crescente abismo entre ricos e pobres, os discursos divisionistas radicais (fascistas) que se espalharam pelo mundo vão destruir tudo aquilo que a humanidade construiu.
Nesse TED, ele deixa claro sua visão e aponta caminhos. A primeira coisa que ele faz é refutar algumas das premissas do neoliberalismo (a doutrina econômica vigente hoje). Ideias como a do equilíbrio interno que determina que se os salários (ou os custos com a mão de obra) aumentam, os empregos diminuem e vice, versa, ou ainda que o preço das coisas (dos serviços prestados) corresponde ao valor que esses serviços tem. Essa segunda premissa neoliberal é bastante dífícil de engolir quando pensamos no salário dos professores, por exemplo. Vale muito assistir o vídeo abaixo
A solução para Hanauer é uma nova economia e ele define algumas regras desse novo modelo. Primeiro, a economia tem que ser vista não como uma selva, mas como um jardim, ou seja, tem que ser controlada por regulações democráticas. A segunda é entender a inclusão como motor do crescimento econômico, e não como resultado final desse crescimento. A terceira é entender que além dos acionistas e executivos, o que faz a empresa é a cooperação de funcionários e a cadeia produtiva, e por isso o foco não pode ser apenas aumentar os ganhos de alguns, mas sim de todos, sem que esses ganhos tenham pesos diferentes. A quarta é classificar a ganância como uma coisa ruim, um traço de psicopatia e não de bom instinto para os negócios. E a última é entender que as leis da economia não são leis naturais como as leis da física. São escolhas e podem ser mudadas.
De fato parece uma proposta muito bonita. Nós temos o poder de mudar o mundo. Podemos construir um mundo melhor se quisermos. Somos bons (mesmo os representantes do 1%) e todos seremos salvos, etc. Mas essa proposta é implantável?
Já falei aqui sobre os paralelos entre a atual crise da economia global e as crises históricas do capitalismo. Essa comparação, segundo a pesquisadora Carlota Peres, aponta para um futuro promissor para o planeta. Também já escrevi sobre a ideia do jornalista investigativo George Monbiot que mostra que a narrativa que parece utópica acaba se tornando realidade por força das circunstâncias. Mesmo as análises mais lúcidas (e por isso mesmo tenebrosas) a respeito do funcionamento do capitalismo no século XXI, como a do professor Ladislau Dowbor (no livro A Era do Capital Improdutivo), terminam com propostas de ampliação da participação democrática, redução da jornada de trabalho, renda mínima e taxação do capital improdutivo, entre outras ideias.
Mas se estamos vivendo um processo de enfraquecimento das democracias pelo mundo, que seria a última linha de resistência à força dos lobbys das corporações globais que querem que os Estados trabalhem para elas, como resistiremos? Ainda que pareça utópico, são as pequenas ações cotidianas das pessoas comuns que transformam o mundo. Ter consciência da complexidade da realidade do século XXI e agir no mundo com coragem e constância, combatendo as pequenas desumanidades com as quais nos deparamos todos os dias (no vídeo acima o professora Ladislau nos dá ferramentas para que possamos compreender nossa realidade econômica). É assim o caso da jovem Greta Thunberg que de ativista solitária passou a ser a voz da sua geração. Ou da ativista Malala Yousafzai que de vítima do extremismo religioso passou a ser líder de um movimento global. E ainda que o totalitarismo desmonte todos os avanços que foram construídos, ainda assim são as pequenas ações que nos fazem humanos. Irenea Sendler e Janusz Korczak que salvaram crianças judias durante o nazismo e se sacrificaram por suas convicções e seu humanismo, são exemplos de resistência em tempos sem nenhuma esperança, e suas histórias nos alimentam a alma.
Como disse o mago Gandalf para a elfa Galadriel em O Hobbit – “Saruman (outro mago) acredita que apenas forças poderosas podem conter o mal”. Mas ele (Gandalf) acredita que são as ordinárias ações cotidianas de bondade e amor que transformam o mundo. Então seja para reinventarmos o capitalismo ou para adotarmos um outro modelo de vida na Terra, não basta criticarmos o sistema ao mesmo tempo que nos beneficiamos dele sem nenhuma consciência das consequências dessa contradição. Não é suficiente esclarecermos as massas se não abraçarmos nosso próximo e nos doarmos de corpo e alma.
Entendo como um dos grande desafio para todo aquele que pense (sonhe) na possibilidade de um sistema que permita a construção de uma sociedade igualitária, a resolução do paradoxo existente entre a crítica sobre o sistema vigente (com base na ascensão de uma consciência de classe, empatia social etc) e o “usufruto” dos benefícios do mesmo (por questão de sobrevivência e gozo)… O ciclo vicioso que aprisiona os seres no trabalho desproporcional, em troca de recursos, para promoção do consumo e pela busca por segurança e bem-estar (reflexo natural) é o processo que deve ser individualmente revisto (interrompido e redirecionado) com coragem, desprendimento e fé no futuro para que a força das coisas (somatória das “ações revolucionárias”) nos levem por um caminho mais justo e pacífico.
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Entendo como um dos grande desafio para todo aquele que pense (sonhe) na possibilidade de um sistema que permita a construção de uma sociedade igualitária, a resolução do paradoxo existente entre a crítica sobre o sistema vigente (com base na ascensão de uma consciência de classe, empatia social etc) e o “usufruto” dos benefícios do mesmo (por questão de sobrevivência e gozo)… O ciclo vicioso que aprisiona os seres no trabalho desproporcional, em troca de recursos, para promoção do consumo e pela busca por segurança e bem-estar (reflexo natural) é o processo que deve ser individualmente revisto (interrompido e redirecionado) com coragem, desprendimento e fé no futuro para que a força das coisas (somatória das “ações revolucionárias”) nos levem por um caminho mais justo e pacífico.
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