A nova geração e o fim do capitalismo

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Há poucas semanas um escândalo ganhou espaço na imprensa norte-americana que anda monopolizada pelos escândalos políticos do presidente deles. Um esquema de fraude na admissão de alunos em universidades renomadas expôs as propinas e subornos que os pais (super ricos) desses alunos pagavam. No país da meritocracia, o resultado das provas era adulterado, relatórios de recomendação eram vendidos e ONGs de fachada recebiam doações para mascarar a fraude.

No mesmo país, o debate sobre uma agenda governamental socialista (considerando o que o senso comum entende por esse termo nos EUA) está ganhando espaço. Políticos do partido oposto ao de Trump estão propondo um sistema de saúde acessível a todos, um sistema de financiamento estudantil que seja barato ou sem custo, uma taxação pesada sobre as fortunas da minoria super rica, além de um pacote de medidas para mudar definitivamente a base energética do país (Green New Deal), estimulando a criação de empregos. E o público que mais se identifica com essas ideias é jovem.

A Guerra Fria, que demonizou o socialismo (ou melhor, a ideia de uma economia controlada pelo Estado), tanto nos Estados Unidos quanto nos países onde a cultura norte-americana exerceu sua influência nos últimos 70 anos, está suficientemente distante da nova geração. Existe hoje uma abertura para a ideia de um Estado que imponha não só a igualdade de condições de partida, como o acesso universal à educação e saúde (lembrando que isso é uma ideia liberal/meritocrátca), mas também impondo um limite para onde se pode chegar, taxando heranças e fortunas e regulando os bancos e o mercado financeiro.

Mas não é só o crescimento da desigualdade econômica que leva os jovens a buscar essas ideias. O principal estímulo hoje é a perspectiva de um futuro incerto ou catastrófico que essa nova geração herdou das escolhas predatórias e competitivas de seus antepassados. O aquecimento global é tema de discussão há décadas. Acordos e tratados foram redigidos e assinados, discursos proferidos e uma tonelada de dinheiro foi gasto tanto para provar quanto para negar as evidências do impacto do progresso humano sobre o equilíbrio do planeta. Mas durante todo esse tempo de guerra de argumentos e gestos diplomáticos, a quantidade de emissões de carbono na atmosfera só aumentou.

É sobre isso que a ativista sueca de 16 anos, Greta Thunberg, nos fala. Numa recente mobilização escolar de escala global, liderada por ela, estudantes de todo o mundo saíram às ruas para protestar contra a falta de ação dos políticos em relação a mudança climática. Na carta que os adolescentes divulgaram fica claro o ponto de vista deles:

Nós, jovens, somos mais da metade da população global. Nossa geração cresceu com a crise climática e teremos que lidar com isso pelo resto de nossas vidas. Apesar disso, a maioria de nós não está incluída no processo decisório local e global. Nós somos o futuro sem voz da humanidade.

Greta (que foi indicada ao Nobel da Paz) coloca contra a parede os debates e os acordos até aqui foram firmados:

Vimos políticos hesitarem e se dedicarem a jogos políticos em vez de reconhecerem que as soluções de que necessitamos não podem ser encontradas no sistema atual. Não querem encarar os fatos: para tentar fazer algo diante da crise climática precisamos mudar o sistema.

É assim que avançamos. Os erros do passado que pesam sobre as futuras gerações só podem ser corrigidos se houver um rompimento com o passado. Por mais que as intenções dos adultos sejam boas, eles não vão viver as consequências. O capitalismo do século XXI tem problemas estruturais profundos e por isso não responde às demandas únicas que vivenciamos hoje.

É hora dos jovens salvarem seu próprio futuro, sem medo de combinar ideias antigas (que foram demonizadas em contextos que já não existem mais) com novas utopias e soluções. Nossa missão é apoiá-los e dar espaço para que eles possam fazer essa revolução.

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