Ao comparar duas escolas inglesas que ficam a minutos de distância uma da outra, a escritora e advogada Afua Hirsch nos mostra, em seu artigo para o The Guardian, que algumas das escolhas que fazemos como sociedade podem não fazer sentido algum. A cidade de Warwickshire é o lar de um dos mais prestigiados internatos ingleses – a Rugby School – fundado em 1567 pelo provedor de especiarias da rainha Elizabeth I, e é onde os filhos dos ricos são educados. Na mesma cidade o “centro de treinamento seguro” Rainsbrook abriga jovens infratores e é administrado por uma empresa de segurança privada, que usa dinheiro público para punir os filhos dos pobres.
A única coisa que os dois remotamente têm em comum é o seu custo excepcionalmente elevado. A Rugby School cobra mais de £ 30.000 por ano por aluno, e por isso não é acessível para a maioria das famílias. São essa mesmas famílias ricas que pagam os impostos que são direcionados para custear a estrutura que encarcera jovens infratores. A enorme diferença entre o custo de uma e de outra instituição leva naturalmente a uma diferença de qualidade. A conta da Rainsbrook custa £ 163,000 por interno por ano, pouco mais de cinco vezes a anuidade da Rugby School.
Enquanto a maioria dos alunos da Rugby School é admitida nas melhores universidades inglesas, dois terços dos internos da Rainsbrook reincidem no crime e voltam para o sistema judicial. Mas as diferenças são ainda mais profundas já que as estatísticas dos jovens infratores são muito diferentes das dos alunos no internato. Enquanto a população geral tem 3% de jovens diagnosticados com necessidades educacionais especiais, em Rainsbrook são 18%. Mais de 60% dos internos têm dificuldades em fala, linguagem e comunicação. Mais de um terço já havia passado por medidas de proteção à criança por causa de abuso ou negligência. Em resumo, essas crianças são as mais vulneráveis da sociedade inglesa.
Hirsch nos conta sua experiência como representante legal de um jovem que teve uma infância difícil. A mãe do jovem passara por dificuldades emocionais e comportamentais por causa do abandono do marido. O menino não se comunicava, era praticamente mudo, comia pouco e era subdesenvolvido para sua idade. Ela pediu ajuda ao seu médico, mas como nenhuma condição médica identificável havia sido diagnosticada, nada foi feito. Ela também pediu ajuda na escola e não foi atendida. Depois de ser intimidado e excluído inúmeras vezes, o jovem entrou para uma gangue local que lhe proporcionou a proteção que ele buscava. E então ele esfaqueou outra criança.
O custo dos advogados, do julgamento, das entrevistas de pré-sentença e relatórios totalizaram dezenas de milhares de libras. Mas claramente o caso do jovem infrator é o resultado de uma série de questões que foram negligenciadas. Estudos associam o crime a condições como crescer em áreas marcadas por uma alta taxa de desemprego, violência familiar e escolaridade e educação de baixa qualidade, baixo peso ao nascer, levando a comprometimento cognitivo, habilidades de raciocínio fracas. Só que para cada um desses problemas, há uma solução mais barata que o custo do modelo punitivo que a sociedade inglesa adota.
E por mais óbvio que isso seja, os políticos usam essas informações e estatísticas para propor programas de identificação de perfil de possíveis/futuros criminosos, e vendem essa ideia como um aperfeiçoamento do sistema de segurança. É a punição antes mesmo do crime.
Para Afua Hirsch, o impacto de um ambiente de qualidade como a Rugby School sobre essas crianças – com toda a ênfase em cuidados holísticos e educação – seria verdadeiramente transformador. Isso custaria dinheiro, é claro. Mas a boa notícia, é que, se as instituições para jovens criminosos, que custam tanto dinheiro público e oferecem tão pouco retorno, fossem fechadas, o custo da escola de elite seria fácil de pagar.