Para o pensador Roman Krznaric, a empatia é a principal ferramenta para a revolução humana no século XXI. Ele afirma que do século passado para esse, passamos de uma fase de introspecção (autoconhecimento a partir de um olhar para dentro), para o que ele chama de outrospecção (autoconhecimento a partir de um olhar para fora, para o outro). A outrospecção, por seu processo coletivo, tem o potencial para disparar profundas mudanças sociais, políticas e econômicas.
Já o professor de psicologia da Universidade de Yale, Paul Bloom, acredita que a empatia leva as pessoas a tomarem as piores decisões. Ele cita Adam Smith para ilustrar que quanto mais empatia tivermos por alguém que sofre, mais desejaremos retaliação contra aqueles que causam tal sofrimento. Para ele a conclusão é que quanto mais empatia, maior é a incidência de violência.
Krznaric nos lembra que a psicologia categoriza dois tipo de empatia, a emocional e a cognitiva. A primeira é a nossa capacidade inata de espelhar as emoções daqueles que nos cercam. Esse tipo de resposta empática é resultado de neurônios-espelho, que são fundamentais no processo de aprendizagem por imitação, que é comum a todos os seres humanos. Já a empatia cognitiva é uma decisão racional. Para exemplificar,Roman Krznaric nos lembra do movimento que levou à proibição da escravidão na Inglaterra, onde por mais de 20 anos, os ativistas publicaram relatos de ex-escravos, fizeram apresentações públicas para apresentar os objetos de tortura e das voz aos cativos, para aumentar a consciência da opinião pública.
Bloom, que é autor do livro Contra a Empatia: O Caso da Compaixão Racional, afirma que o problema da empatia (emocional) é que ela praticamente só acontece entre pessoas que tem afinidades emocionais. Essa capacidade inata nos leva a entender a dor e as ideias daqueles que estão ao nosso redor, e por isso nos afasta daqueles que cresceram em outras realidades, em outros países, com outras religiões. Ele defende a compaixão por entender que ela nos mantém afastados do outro, sem o perigo de nos misturarmos e confundirmos o nosso sentimento com o sentimento alheio. A compaixão seria, para Bloom, uma janela para a razão que faz com que possamos ser calorosos e zelosos em relação ao ouro, sem perdermos nossa individualidade.
A leitura que Krznaric faz da empatia é mais ampla. Ela nos diz que é automático sentir empatia por aqueles que pensam como nós, e que quase sem esforço podemos sentir empatia pelas pessoas marginalizadas, mas que devemos fazer um esforço racional para sentir isso por aqueles que estão no poder, por exemplo. Só compreendendo as motivações e os sentimentos destes últimos é que poderemos desenvolver estratégias para transformarmos a sociedade. Da mesma forma que só através da razão podemos expandir nossa empatia no espaço e no tempo. No espaço para compreender o outro que vem de uma realidade completamente diferente da nossa. E no tempo para ter empatia pelas futuras gerações que herdarão as consequências de nossas escolhas.
Ao tentar opor compaixão e empatia, Bloom cria uma falsa dicotomia. A empatia, por ser inata, nos convida a agir. Empatia é um sentimento que compartilhamos. Se a nossa razão refina esse sentimento e nos faz buscar em todos os outros seres humanos uma essência comum com a qual podemos nos identificar, isso abre as portas para um mundo de paz. Mas ainda assim a paz não é um resultado inevitável da empatia. É preciso escolher agir, e essa escolha terá que ser refeita a cada novo encontro.
Mauricio Zanolini
Uma resposta para “Os prós e os contras da empatia – Roman Krznaric versus Paul Bloom”