No fim do ano passado o comediante e empreendedor Murilo Gun falou no TED Fortaleza sobre como as escolas matam a aprendizagem. Em poucos minutos, ele resume o momento histórico que vivemos, aponta o problema central das escolas e nos dá alguns caminhos para escaparmos dessas armadilhas e retomarmos nossa autonomia em relação à nossa própria educação.
Ele cita o TED mais assistido de todos os tempos do educador inglês Ken Robinson, sobre como as escolas matam a criatividade. Em outro vídeo, o mesmo Ken Robinson nos mostra como as crianças vão ficando com medo de errar ao ficarem mais velhas. A criatividade livre e sem freios dos primeiros anos vai sendo desencorajada, criticada e moldada pela escola, pelos pais, pela sociedade, pela cultura, e vai sendo substituída pela insegurança, o medo da repressão. Murilo Gun, em sua fala, nos diz que precisamos reaprender a sermos curiosos e agir novamente como as crianças que absorvem e apreendem tudo. Mas depois de mais ou menos 20 anos de lavagem cerebral, não é tarefa fácil.
Temos de ter consciência de que os que hoje são pais e professores foram crianças autodidatas (como todas as crianças são), passaram pelo moedor de carne da cultura (que engloba as relações familiares, as instituições, o Estado, a indústria do entretenimento, etc), e também se transformaram em adultos inseguros. São esses adultos que hoje guiam as crianças por um mundo que muda o tempo todo e em ritmo acelerado. A resposta reativa mais simples ante o contexto é impor controle. Se não sabemos como lidar com tamanha velocidade, se não temos certeza do resultado da liberdade, mesmo que a nossa experiência tenha sido ruim, é a única que conhecemos e portanto a que nos dá menos ansiedade, e por isso reproduzimos e alimentamos assim uma cultura que não tem nenhuma ressonância com o hoje.
O acesso à informação, que no passado era escasso, nos mantinha isolados (protegidos). Uma educação repressora poderia, naquele contexto, resultar em alguém resignado, conformado ao status quo. Hoje, a informação é abundante, não existe mais isolamento possível. A repressão, que gera revolta naquele que é reprimido, encontra inúmeras possibilidades de escape antes do conformismo. O consumismo, ou a ilusão de consumismo, é talvez a rota de fuga mais escolhida, mas a depressão, a falta de sentido existencial, a medicalização pesada, o suicídio, são efeitos cada vez mais comuns nesses novos tempos.
Se reconhecemos que os novos tempos pedem um novo paradigma para a educação, só poderemos construir essa nova prática se também olharmos para nós mesmos. Nossos traumas, inseguranças e ansiedades devem ser investigados, nomeados, enfrentados. A formação de pais e professores passa por um processo terapêutico que nos ajude a reconhecer nossas respostas automáticas e simplistas a situações que não estejam no nosso controle. Mas aqui faço uma ressalva – esse aspecto terapêutico de nossa formação não é autoajuda. Empoderamento, pensamento positivo, motivação e dinâmicas colaborativas, são ferramentas de apoio, mas quase nenhuma delas faz um mergulho profundo na história do indivíduo e o acompanha em seu processo de reconstrução de si mesmo. A autoajuda pode inclusive mascarar problemas e fragilizar ainda mais, principalmente se ela é apresentada como um produto de consumo imediato e resultados instantâneos.
Outro ponto sensível da fala de Murilo Gun é sobre os curadores de conhecimento. Em um mundo abundante de informações, proliferam mentiras, ditas como verdades. Sites de notícias falsas, segmentos da imprensa comprometidos com determinadas agendas ideológicas, mas que se dizem neutros, discursos de ódio disfarçados de norma. Nesse cenário, quais os critérios para escolher um curador confiável de informações? Nós da Universidade Livre Pampédia, por exemplo, somos curadores de informação e produtores de conteúdo, mas afirmamos nossas bases conceituais com transparência e incentivamos o pluralismo, o diálogo e o pensamento crítico.
A revolução na educação passa pelo autoconhecimento dos educandos, e por mais difícil que isso seja, não é possível resolver esse problema com ações em massa, como palestras motivacionais ou cursos de formação on-line. Essa revolução precisa de interação, engajamento, presença, troca. Além disso, precisamos de critérios que nos ajudem a organizar as ideias e ampliar nossa compreensão mais profunda do mundo e dos seres humanos. É um trabalho gigantesco, especialmente no Brasil, por isso arregacemos as mangas!
Mauricio Zanolini
Acabo de descobrir este oásis e gostaria apenas de registrar minha mais profunda gratidão: porque vocês existem, porque vocês se esforçam, porque vocês não desistiram, porquê eu vivi para ver uma iniciativa assim, porque eu tive sorte de chegar até aqui seguindo links, enfim porque a magia da vida continua sendo revelada aos que acreditam. Gratidão ❤ Meu dia hoje foi mais feliz! 🙂
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