O idealizador da Escola Lumiar, Ricardo Semler, em recente artigo para a folha de São Paulo relata o esquema fraudulento que as instituições privadas de ensino usam para ficar nas primeiras colocações do ranking de melhores notas no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Não é novidade. O marketing que vende essas escolas como centros de excelência, onde nossos filhos garantirão vagas nas melhores universidades e terão um futuro cheio de realizações, é alimentado pela mais abjeta manipulação. Os melhores alunos são selecionados e são eles que fazem as provas que dão a nota final da escola.
Semler cita também o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), que hoje tem em seus primeiros lugares países como a Coréia do Sul, que paralelamente detém um recorde mundial de suicídios de adolescentes exatamente pela pressão que sofrem pelo rendimento escolar, e cita a reforma do ensino médio, que simplifica o currículo numa tentativa de focar os alunos nos conteúdos que são relevantes para o ranking internacional. Em suas palavras:
Professores fazem de conta que ensinaram. Alunos fazem cara de que aprenderam. Pais e sociedade babam em rankings do ENEM.
Em uma recente reportagem da revista VEJA, nos é apresentada o esquema fraudulento que universidades como a Unip e a Uninove usam para manter ambas as instituições no topo do ranking do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes). Tanto a universidade onde “seu sonho acontece” (Uninove), quanto “a universidade particular preferida dos que contratam” (Unip), pressionam seus professores a reprovar estudantes no penúltimo ano da graduação, para que só os melhores alunos façam a prova do ENADE (o vídeo onde a professora Zulimar Barreto Boro da Unip orienta os professores a mascarar as reprovações de alunos é especialmente perturbador).
Se o Ensino Médio é esse funil fratricida onde vale tudo, onde as próprias instituições de ensino corrompem seus funcionários para participarem de um sindicato do crime, se a Universidade é esse antro de abutres que perseguem e prejudicam alunos em defesa da “imagem da instituição”, então somos todos canalhas. Nós que incentivamos e nos orgulhamos de nossos filhos quando eles “vão bem” nas provas, passam na faculdade e “conquistam” seu diploma, e que os repreendemos, castigamos, nos frustramos quando eles não se adequam a esse sistema, somos coniventes e alimentamos toda essa corrupção.
A moça, cujo papai pagou R$ 180.000,00 para fraudar a última prova do ENEM, postava #foraDilma nas redes sociais, alguns meses atrás. Os advogados, gerentes, diretores da SAMARCO, passaram no vestibular, e conseguiram seus empregos com diplomas estrelados de universidades do topo do ranking, que são as preferidas de quem contrata. Nós queremos o fim da CORRUPÇÃO (dos outros), mas não abrimos mão dela quando ela nos beneficia, mesmo que esse benefício seja apenas uma ilusão. E assim vamos fingindo que não existe uma relação de causa e efeito entre toda essa imoralidade e a formação ética dos indivíduos que estão na escola e na universidade.
Enquanto nós nos xingamos mutuamente apontando o boné vermelho de um como sinal evidente de sua filiação/devoção a um partido corrupto, e o cardigan azul do outro que jogado sobre os ombro é prova cabal de sua alienação política e social, o rei desfila como veio ao mundo. Enceguecidos de ódio, tentamos adivinhar nas virtuais vestimentas do rei um lenço carmim que nos alimente a utopia ou botas ultramarinas que nos conduzam a ações de pragmatismo simplista, anestesiando assim a realidade. O rei (que somos eu, você, o Estado, a nação) está nú e se quisermos construir alguma coisa nova, precisamos começar admitindo.
Mauricio Zanolini
No Ceará, temos o ranking de notas com as provas do estado – Spaece, com alunos das séries iniciais. Isso é um crime.
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