Essa semana, dois fatos se entrelaçaram em minha mente e em meu coração, no campo existencial da Educação. De um lado, faleceu uma querida professora minha do Ensino Médio (antigo colegial), D. Rosária Hernandes Dias, que me dava aula de português e literatura. Do outro lado, estamos inaugurando, para as primeiras aulas presenciais, nossa nova sede da Universidade Livre Pampédia, em Bragança Paulista. (Saímos da chácara em que estávamos, pois era muito dispendiosa nessa época de crise e nos instalamos numa boa casa, muito aconchegante, com muito verde, no bairro Jardim Santa Helena.)
Por que a conexão entre os dois fatos?
Porque me lembrei da minha adolescência, vivida no Colégio Maria Imaculada, uma escola dirigida por madres espanholas, e fiquei relembrando as professoras, as freiras… com muitas deles mantive contato por longos anos, algumas acompanhei até a morte. E pensei: tratava-se de um colégio tradicional, nos moldes de carteira, lousa, conteúdo dado, prova… Era uma escola católica, confessional. E, na minha época, pasmem, uma escola só para meninas. Ou seja, tudo ao contrário do que penso hoje que deva ser uma escola. No ideário da Universidade Livre Pampédia está a ideia de uma educação por projetos, livre, sem provas tradicionais, sem modelos meramente expositivos de aulas. Uma educação plural, inter-religiosa.
Pode haver algo em comum entre esse colégio em que eu estudei – que por sinal, adorava – e essa escola que hoje defendo? Sim: Justamente o essencial – aquilo que Saint-Exupéry dizia ser invisível aos olhos.
O que é essencial na Educação: a relação humana. O olho no olho. O afeto. A ligação de coração a coração. Podem variar os métodos, podem mudar os parâmetros, podem-se usar livros ou projetos, computadores ou cadernos, mas se não houver uma profunda relação humana entre educador e educando, nada acontece. E pode faltar tudo numa escola. Pode nem existir a escola. Mas se existe uma relação mestre-discípulo, educador-educando, está tudo feito. Claro, uma relação de contágio positivo, de amor respeitoso, de cultivo desinteressado dos talentos do educando. Jesus, o mestre dos mestres, pode ser considerado o maior exemplo desse educador pleno, e ele nunca ensinou numa escola, nem usou de qualquer cátedra. Ensinava à beira dos lagos e em cima das montanhas.
Nesse colégio que estudei, portanto, havia as professoras sinceramente empenhadas em ensinar, e ao mesmo tempo, prontas a acolher, a conversar, a estimular. Por isso, as duas professoras de português que tive, D. Lavínia e D. Rosária marcaram minha entrada na literatura. Aos 18 anos, publiquei meu primeiro livro de poesias, fiz uma dedicatória a elas, e elas estavam presentes no lançamento.
E nesse colégio em que estudei, embora fosse com aulas tradicionais, houve espaço para eu fazer um projeto pessoal. Ajudei, com algumas amigas, a fundar o grêmio estudantil, lancei um jornal na escola, no qual escrevia, fazia entrevistas, fazia fotos e ainda buscava anúncios nas redondezas do colégio, para patrocinar a impressão. Lembro-me de um cartão, escrito pela Madre Fé, diretora do Colégio, com quem tinha uma profunda relação afetiva, me dizer que eu “vivia o pensamento impresso”.
Como se vê, quando há humanismo, amor, dedicação, há espaço para o reconhecimento e desenvolvimento de talentos, há espaço para projetos pessoais e autônomos.
Nesse mesmo colégio, católico, de freiras espanholas, recebi grandes lições de tolerância religiosa. Todas as freiras sabiam que eu era espírita e sempre fui respeitada. Nunca foi obrigada, convocada ou pressionada para participar de nenhum ritual católico. Nas aulas de religião, outra grande mestra, Madre Marina, deixou que eu desse uma aula para a classe sobre o Espiritismo e ainda aceitou com grande acolhimento um livro de Herculano Pires, que lhe dei de presente.
Por tudo isso, hoje, quando trabalho por uma educação livre, aberta, humanista, que quebre com o modelo tradicional, guardo sementes recebidas nesse mesmo modelo, onde não era tão importante a forma, mas fundamental a essência.
E agora, quando me pedem para fazer uma pós-graduação inteiramente à distância, me recuso terminantemente. A tecnologia é fantástica, na medida que pode reduzir distâncias, semear ideias em profusão, com rapidez, eficiência e estética – que é o que procuramos fazer na Universidade Livre Pampédia. Mas nada substitui o olho no olho, nada é mais transformador que uma relação ao vivo e a cores, com o contágio da vibração, com o toque do abraço, com o simplesmente estar junto…
E por isso que, mesmo com sacrifício financeiro imenso, com coragem quase heroica, mesmo num momento em que muitos fecham as portas e alguns até nos aconselham a fazer o mesmo ou ficar apenas no virtual, estamos de portas e corações abertos, na Universidade Livre Pampédia, numa casa em Bragança Paulista, onde esperamos receber muitos alunos, para uma convivência pedagógica significativa.
Também passei minha infância em colégios de Freiras religiosas em Portugal. Também me recordo dessa proximidade. Também me recordo do livro que li , escrito por si, sobre Pestalozzi e o seu método pedagógico de proximidade com os alunos (mais do que alunos, eram seus filhos de coração). Gostaria frequentar sua Universidade, mas presencialmente. Diga como faze-lo. Obrigada
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Sou gestor numa escola de Tempo Integral, e, como espírita, sempre trago preceitos de uma educação libertadora, onde o estudante é o protagonista principal. A Educação Segundo o Espiritismo- da sua lavra professora, é utilizada nas várias modalidades de ensino:Ensino Fundamental II- EJA e Ensino Médio. Pela manhã, fazemos a formação das turmas em que o coordenador/a, lê a pauta das atividades do dia anterior, e em forma de mística apresenta temas que acham conveniente para o crescimento da escola em todos os níveis. Estou acompanhando e torcendo pela Pampédia! Sucesso sempre…
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Lindo!
Me emocionei muito, recordei também da minha escola, Colégio Nossa Senhora do Rosário, católico, confessional, irmãs dominicanas de origem francesa.
Lembranças boas!
Lembrança especial da Irmã Felicidade, sabia ser eu espírita e proferia ela, aula de religião, hoje percebo que Ir. Felicidade nos ensiva estudo inter religioso.
Beijo
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Deise querida! Olha que coisa! Estudei até a sexta série no Colégio Nossa Senhora do Rosário. Depois, a partir da sétima, fui para o Maria Imaculada! Beijos
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Quanta verdade neste seu depoimento. Uma profunda reflexão para todos os interessacas no desenvolvimento do potencial Humano. Parabéns!
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