Vivem no mundo pelo menos três gerações que não conheceram a dualidade comunismo x capitalismo, que iconicamente podia-se representar por EUA x URSS. No fim da década de 80 do século passado, a URSS de despedaçou e apenas alguns países isolados mantiveram sua orientação comunista/socialista, mas que, de tão isolados, estão aos poucos se abrindo para o mercado capitalista.
Então, o capitalismo é o sistema vencedor, como sistema possui teoria e prática; mas como é sistema hegemônico, a teoria e prática poucos são percebidas no dia a dia, pois no dia a dia seguimos do jeito que dá, na ilusão de que não pode ser diferente.
Seguindo do jeito que dá, de repente, nos deparamos com uma crise econômica que abala o país, cortam-se investimentos, somem empregos, e parece não haver luz no fim do túnel. Os culpados são citados ao montes, cada entrevistado se torna um arauto do apocalipse e, no caso brasileiro, o culpado principal é o Governo.
Sem entrar no mérito da culpa da crise que assola o país, temos que pensar como formar nossas crianças para que entendam que vivem sob as regras do sistema capitalista e as suas implicações.
Por exemplo, com um pouco de conhecimento de como funciona o sistema, a grande massa teria entendido que o modelo econômico adotado para o Brasil nos últimos anos se exauriria e que a falta de poupança da população, que no modelo em questão promovia o consumo e endividamento, causaria problemas. Assim, mesmo com os incentivos temerários dos agentes que movimentam a economia, pessoas mais conscientes teriam tomado decisões melhores em relação às suas finanças e aos seus planos de médio e longo prazo.
Outro ponto importante sobre a discussão do sistema capitalista com nossas crianças é o fato de que por ser hegemônico, as fronteiras do que é ético se tornam muito flexíveis, muita coisa ruim é feita sob a égide do sistema e por que é legal (leis), mas no fim das contas acaba atendendo interesses de grupos econômicos, pouco preocupados com os impactos dessas ações nos vários níveis de sustentabilidade. A discussão sobre as forças econômicas que comandam a economia mundial, suas práticas e consequências, passa longe de qualquer discussão dentro das escolas.
Nesse ponto entra a Economia apresentada na TV: grande parte da população, principalmente os jovens e crianças, acabam tendo contato com dados sobre a economia somente pela telinha da televisão. Uma atitude passiva frente aos relatos e comentários de pessoas desconhecidas, das quais nem temos certezas das referências profissionais e pessoais, que abordam temas recortados, descolados do grande sistema, apontando apenas consequências e características de um subsistema. Além disso, é importante lembrar que todas as redes de televisão dependem de anúncios comerciais, que são bancados pelas grandes corporações, e, por fim, as próprias redes de televisão possuem seus próprios interesses.
O estudo da Economia relaciona-se com o conceito do gerenciamento da produção e distribuição de recursos com valor, recursos esses finitos, para uma população supostamente com infinitas necessidades. Ou seja, se existem recursos finitos e uma população crescente e com muitas necessidades, a abordagem dessa ciência com crianças de forma responsável é importante para que quando se atinja a juventude, o pensamento possa estar mais educado e crítico, apto a fazer análises mais limpas do cenário atual e futuro.
Finalizando e se alinhando com o tema, o que temos que ensinar para as crianças sobre economia é mais do que a fórmula mágica de gastar menos do que se recebe, é preciso introduzir ideias ligadas à ética, à sustentabilidade e ao acesso universal aos recursos essenciais.
Alexandre Mota é mestre em hospitalidade, professor universitário e membro do Conselho Fiscal da Associação Brasileira de Pedagogia Espírita