Em Educação, tudo deve começar na Arte, ser permeado pela Arte e terminar em Arte. Num projeto interdisciplinar, por exemplo, o gancho inicial, para trazer um eixo temático, pode ser uma música, um filme, um poema, uma pintura… Durante o projeto, podem ser trazidos outras músicas, filmes, poemas, pinturas… E para finalizar, os educandos podem produzir a partir daquela pesquisa ou vivência, uma canção, um documentário, uma poesia, um desenho, uma peça de teatro, formulando esteticamente a compreensão adquirida da temática trabalhada.
O ambiente belo, com cores, natureza, pensado com arte, também deveria ser o cenário de todas as ações pedagógicas e não essas escolas acinzentadas, concretadas, engradadas, que fazem mais parecer uma prisão do que um lugar para estimular o desabrochar de talentos.
Mas a Arte no mundo contemporâneo foi primeiro desconstruída de qualquer compromisso com beleza e elevação, sentido e nexo, porque hoje se considera como arte até um animal dissecado e sangrento numa exposição. O relativismo estético, aliado aliás ao relativismo ético, que foi útil e necessário, até certo ponto, para romper com os rígidos padrões antigos, acabou por resvalar num niilismo angustiante, com inteira ausência de forma e conteúdo.
A Arte hoje também está submetida à indústria cultural. O que significa dizer que ela está vendida: muita coisa veiculada como Arte não é Arte de fato, mas apenas um produto comercial, com um único comprometimento, o de ser mais um produto palatável e vendável no mercado cultural. Assim, temos músicas paupérrimas em melodia, harmonia e letra; livros com textos tolos e fracos; filmes para entretenimento erótico e violento das massas…
E como as pessoas não conhecem outra coisa, acham que isso é Arte!
Um paradoxo contemporâneo também é esse: nunca tivemos tanta oportunidade de acessar todo acervo de produção artística milenar da humanidade. Basta entrar no Google ou no Youtube, para passearmos por museus, conhecermos artistas do passado e do presente, ouvirmos músicas antigas e contemporâneas de todas as culturas… e no entanto, a maioria não faz isso, não sabe fazer… Como a escola, o rádio, a televisão não trazem conteúdo estético significativo, a maioria não saberia nem como procurar e o que procurar, como percorrer todo esse acervo estético universal, riquíssimo, significativo…
Por tudo isso, a Educação, em todos os níveis (da pré-escola à Universidade), em todos os espaços institucionais (da família à escola, passando por Ongs, espaços livres, templos e centros religiosos) deveria estar comprometida em oferecer a todos o acesso a tudo de bom e belo, antigo e contemporâneo, erudito e popular, que foi produzido pela humanidade. Trata-se de dar a oportunidade de vivenciar experiências estéticas significativas e estimular a produção de arte. Nem todos devem se tornar artistas profissionais, mas todas as pessoas podem escrever um poema, fazer um desenho, cantar, dançar…
No último fim de semana na Pós Graduação de Pedagogia Espírita, na Universidade Livre Pampédia, em Bragança Paulista, tivemos reflexões sobre Estética e vivências de arte. Luis Augusto Beraldi Colombo, arquiteto e designer, abriu o sábado com imagens de paisagens naturais, do cosmos, de animais, perguntando-se por que a grande maioria dos seres humanos admira as mesmas paisagens.
Com duas alunas dentistas presentes, discutiu-se também que a estética humana é pautada na normalidade e na naturalidade: geralmente achamos bonitos padrões humanos que se aproximam do natural, como uma dentição completa e saudável, e achamos feias as amputações, por exemplo. Há também a proporção, que está presente em padrões de rostos, obras naturais e arquitetônicas, que achamos belas.
Discutiu-se a ideia da estética com o princípio de Herculano Pires, em seu livro O Ser e a Serenidade: “Buscar a perfeição em todas as coisas”. Assim, a estética pode permear tudo o que fazemos e sentimos satisfação ao fazermos algo belo, harmonioso, bem feito.
Entretanto, como vivemos no plano do relativo, a beleza relativa que o ser humano alcança muitas vezes se distancia do bem. Falando em termos absolutos, a beleza é indissociável do bem, lembrando o mundo das ideias de Platão. Mas isso não se dá no mundo sensível, esse em que vivemos aqui e a agora. O Taj Mahal, por exemplo, foi construído às custas de muitas tragédias e explorações. Outro exemplo: pessoas com corpos físicos belos não necessariamente expressam a beleza espiritual.
Luis Colombo trouxe também a proposta de a arte ser uma potente ferramenta educacional, pelo seu poder de maravilhar e inspirar, e assim trazer a vontade de aprender, de participar daquela beleza. Seja a beleza do cosmos, uma beleza arquitetônica ou a beleza de uma pessoa engajada no bem coletivo. A experiência de maravilhamento diante do belo é motivante.
À tarde, o debate continuou, alternado com percepções musicais e poéticas, com minha aula, em que apresentei de cantos africanos a Bach e Beethoven.
No final do dia, juntou-se a nós o músico Tato Andreatta, com seu piano maravilhoso, e deu uma breve introdução à História da Música, desde as flautas de osso de 35 mil anos atrás até a música dodecafônica de Arnold Schoenberg.
Em seguida, cantei acompanhada por Tato: blues, spirituals, MPB, ópera. Cantamos todos, em grande alegria e vibração.
No domingo, Marcos Ferreira, filósofo e estudioso das questões estéticas, trouxe a inspiradora contribuição de Friedrich Schiller para o debate, com sua proposta de Educação estética, num equilíbrio entre sensibilidade e razão.
E, para encerrar as atividades do fim de semana, Patrícia Lima Martins Pederiva, aluna da pós, e também violoncelista e especialista em educação musical, professora da Universidade de Brasília, partilhou com a turma uma oficina de paisagens sonoras. O trabalho com paisagens sonoras busca identificar sonoridades de contextos representativos para pessoas ou grupos, evocando emoções referentes a esses contextos sonoros. Trabalha com a representação, criação, expressão e compartilhamento dessas sonoridades de modo colaborativo, por meio de jogos musicais.
Quem não estava lá pode imaginar como todos saíram enlevados e elevados, estimulados e alegrados? Ainda mais depois da obra de arte do almoço (pois a culinária também é uma arte) da nossa Nena (Ilani Leme) e sua assistente Cris (Ilanu Leme), com um molho de tomate de horas de apuração.
Dora Incontri
Deve ter sido maravilhoso, como participar?
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