“Quando todos pensam o mesmo, ninguém está pensando”.
Walter Lippmann
Dentre as diversas ondas editoriais com sucesso de vendas, destacaremos uma, em especial, por seu caráter altamente sedutor e manipulativo: a autoajuda educacional. Os livros com este tipo de proposta são procurados como fonte de motivação por professores de diversas áreas, já desgastados, cansados da luta hercúlea e inglória, que busca fazer encaixar uma pedagogia ultrapassada (se é que em algum momento já foi apropriada) junto a alunos do século XXI. Realmente não tem sido fácil a vida profissional destas pessoas, que recebem do governo um pacote pedagógico pronto e enlatado (“de cima para baixo”) e, de outro, seres pensantes, integrais, cheios de vida e necessidades, que buscam elementos bem diferentes dos encontrados em ambiente escolar. Aliás, podemos afirmar que a escola muitas vezes surge na vida dos educandos como um autêntico leito de Procusto, ora cerceando potencialidades, ora enxertando elementos desnecessários (quando não, absurdos).
Tais livros parecem ser, então, a salvação da lavoura do professor angustiado. Surgem com a pretensão de ajudá-los com receitas e fórmulas milagrosas, maquiadas com linguagem amorosa, repleta de dicas envolventes e propostas hipnotizantes.
Assemelham-se muito com o uso de dipirona em processos infecciosos: atuam com relação a alguns sintomas, sem darem conta das respectivas causas. Diminuem a febre emocional do educador, sem conseguir extirpar a infecção instalada no processo educacional.
Pedem amor, bondade, respeito e dedicação (sim, estes são ingredientes fundamentais no processo educacional), sem levarem em conta questões históricas, sociais, econômicas, etc.
Tentam dar conta de assuntos complexos, amplos, extensos, profundos, de forma rasa, inconsistente, sem nenhum compromisso com a ciência.
Como tentativa de manipulação, mostram o óbvio como se fossem descobertas geniais, saindo da mente do autor para as prateleiras das lojas em pouco tempo, afinal o texto não se curva à necessidade de critérios, métodos científicos, nem leitura interdisciplinar.
Palpitam com frases clichês, cerceando a criticidade, obscurecendo a luz da razão.
Seduzidos pelo tom amoroso desses textos reveladores, deixamos de lado o realismo necessário para analisar e enfrentar os problemas concretos da educação.
Outro ponto a ser destacado é de que, quando lemos livros que afirmam que TODOS podem conseguir a melhoria na educação através destas receitas, uma onda ainda maior de derrotismo pode invadir aqueles que, por mais que se esforcem para alterar os padrões mentais, os hábitos dentro e fora da sala de aula, não conseguem atingir os objetivos apontados na obra. Então, aquilo que vem com a proposta de libertação, escraviza. O que nasce com a intenção de esclarecer, marginaliza.
Vez ou outra ouvimos relatos dos que conseguiram maravilhas em suas vidas, através da superação e da observância das técnicas contidas em textos de autoajuda. Em contrapartida, os falidos nunca aparecem. O que eles falariam ao público? Diriam que não conseguem porque não têm capacidade ou força de vontade?
A autoajuda educacional trabalha com o pressuposto de que todos os problemas e soluções estão dentro de você, educador, desconsiderando a realidade social onde o indivíduo se encontra, suas relações ou sua história de vida.
Engessa a questão, como se pudéssemos dar conta de sua totalidade dentro do formato de uma posologia de bula de medicamento: Se apresentar isso, use tantas gotas, a cada 12 horas. Se acontecer aquilo, use neste formato, de 06 em 06 horas…
Pequena frase, em tom de anedota, que circulou em redes sociais, tempos atrás, deu conta de resumir o caso exposto, até aqui: – Livros de autoajuda realmente ajudam: a engordar o bolso de alguns. Nada mais.
E, parafraseando Guevara, finalizamos dizendo que nós, da Universidade Livre Pampédia, seguiremos adiante, trabalhando por soluções válidas para a educação, contemplando todos os aspectos do Ser, dentro de um rigor científico necessário, porém, sin perder la ternura, jamás!
Cláudia Mandato Gelernter