Qual o “resultado” da educação?

A vivência da pós em Pedagogia Espírita

Arte de Lili Lungarezi
Arte de Lili Lungarezi

Fazendo, como sempre, uma avaliação coletiva do curso de Pedagogia Espírita, em nosso último encontro de aula em dois anos da turma 9, tive vontade de tecer algumas reflexões que tocam a essência do que devemos entender por educação.

As pessoas que fazem o curso – e já vão dez anos que esse curso se faz – alegam em sua maioria, que tiveram mudanças profundas, alteraram suas perspectivas de vida, acharam outro sentido existencial, quebraram paradigmas, abriram novos universos… alguns mudam de profissão, outros se engajam em outros estudos mais aprofundados (e a partir desse ano, terão a oportunidade de fazer isso na própria Universidade Livre Pampédia), muitos partem para diferentes projetos de vida em que a educação esteja incluída ou incluem um pensar pedagógico em suas atividades diárias, familiares, profissionais e espirituais.

Para mim, e é isso o que queremos na Universidade Livre Pampédia, o resultado de um processo de fato educativo é esse: deflagrar questionamentos, abrir os olhos da alma, tocar o coração, promover mudanças, incentivar inquietações existenciais, revolucionar a vida… E trata-se de um processo que não terá fim. Porque a pessoa que desperta para o caminho da autoeducação e da ação pedagógica no mundo, estará sempre em busca de seu crescimento, sempre comprometida com a transformação de si e do meio.

Muito ao contrário do que a educação tradicional pretende avaliar como resultado – fórmulas decoradas, conhecimentos pasteurizados e engolidos (a tal da educação bancária, à que se referia Paulo Freire), comportamentos padronizados e obediência calada – a educação de fato não tem resultados mensuráveis, ela deflagra germinações imprevisíveis, mudanças de mentalidade e atitude, que podem emancipar o ser humano e promover felicidade.

É verdade que nem todas as pessoas que participam de um curso como esse – que tem o claro objetivo de impactar o indivíduo culturalmente, existencialmente, espiritualmente, acordando nele a autonomia de pensar – nem todas as pessoas se abrem a esse contágio. Algumas continuam de ouvidos fechados, repetindo os chavões que já constituíam antes suas fracas certezas, adquiridas no seu meio, na mídia manipuladora ou nas suas ralas leituras. Isso pode nos decepcionar profundamente, quando somos educadores de fato, e almejamos resultados de alma e não respostas fechadas em testes monótonos. Mas o educador é como um semeador que saberá que nem todas as terras por ora estão férteis. Há que se esperar a obra do tempo para amaciar alguns espíritos mais arraigados em seu dogmatismo e blindados em seus ouvidos moucos.

Mas o educador que semeia com persistente esperança se farta largamente com a boa colheita que se anuncia, quando a educação é realmente contagiante, emancipatória, questionadora, com consistência racional e científica, mas também com coração aberto e fecundo.

Nesse sentido, posso dizer que tenho grande satisfação de ver que 10 anos de pós de Pedagogia Espírita deixaram marcas em muita gente, modificou o roteiro de vida de uma boa parte dos que fizeram o curso até o fim e até dos que desistiram na metade. E isso não é mérito meu apenas. Os professores do curso, escolhidos a dedo, espíritas e não espíritas, todos com trabalho acadêmico e pedagógico significativo, são todos seres humanos apaixonados pelo que fazem, pelo que acreditam, pelo que propagam. Não há nada morno e burocrático em nosso curso e é assim que deve ser a educação. Que se garanta o brilho dos olhos (e às vezes também as lágrimas), que se garantam os debates acalorados, as noites sem dormir, lendo ou maturando ideias, que se garantam perguntas com diferentes respostas ou sem resposta acabada… e teremos de fato um processo de educação. O resto é monotonia e mesmice.

Dora Incontri

3 respostas para ‘Qual o “resultado” da educação?

  1. Muito feliz por ver o crescimento da Doutrina Espírita no segmentos mais importantes da vida. Emocionada, mesmo!
    Sou grata a Doutrina que está me transformando dia a dia…lento, por minha fraquezas, mas não sou mais, nem de longe, a pessoa de ontem.

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  2. Foi graças a este pensamento aberto que pude concluir o curso. Realmente muitas mudanças ocorreram dentro de mim e em minha vida permitindo um olhar cheios de possibilidades e inovações. Estou sentindo muita falta do convívio e da aprendizagem refletida, enquanto a Universidade não começa com seus cursos estou fazendo aulas livres dos cursos gratuitos online da USP e me inscrevi no curso de política. Aprender é um grande prazer em minha vida. Obrigada a você Dora e a toda sua equipe pelo magnifico trabalho que vêm construindo nestes 10 anos.

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  3. “a educação de fato não tem resultados mensuráveis, ela deflagra germinações imprevisíveis, mudanças de mentalidade e atitude, que podem emancipar o ser humano e promover felicidade.”

    Nao concordo. E’ possivel sim mensurar as mudancas de mentalidade e atitude de pessoas envolvidas em processos educacionais profundos, como esse que voce defende. Como voce mesmo disse, e’ facil enxergar a influencia desse despertar, o que torna esse fato mensuravel.

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