Música e juventude: uma trilha sonora para a história.

RFM-100

Renato Ferreira Machado, em parceria com a Universidade Livre Pampédia, oferece um curso que é um mergulho na música pop norte-americana da segunda metade do século XX até agora, entendendo o contexto e as diferentes expressões das juventudes, em sua ânsia por transformar o mundo.

Quando a Segunda Guerra Mundial terminou, todos pensavam nos Estados Unidos que as coisas estavam resolvidas. Os soldados voltariam para casa, amariam suas esposas, seriam eternamente reconhecidos como heróis e teriam filhos que seriam tão patriotas quanto eles. Afinal, eles haviam derrotado, a um preço bem alto, os vilões do eixo nazi-fascista. A década seguinte foi realmente de prosperidade para esse país. Sem ter muita concorrência econômica, a indústria superaqueceu e as pessoas estavam felizes em seu mundo de trabalho, família, propriedade e consumo. O único perigo eram os comunistas, que estavam infiltrados na terra da liberdade, disfarçados como intelectuais, artistas, sindicalistas….

Essa era a narrativa oficial que circulava na sociedade, mas, sentia-se, algo estava errado com essa visão de mundo. Na terra da liberdade e das oportunidades, faltava igualdade. Na terra da democracia, faltava diálogo. No país que construía um futuro promissor através de sua economia liberal, os jovens não tinham sua visão de futuro levada em consideração. E daí veio a virada…

Houve uma geração de jovens que começou, simultaneamente, a olhar para frente, para trás e para os lados. Ao olhar para a frente, perguntaram se o único futuro que lhes restava era adaptar-se a uma narrativa pré-moldada, onde se tornariam pais e mães de família, morando em confortáveis casas, cheias de produtos comprados à prestação. Ao olhar para trás, perguntaram se a história que haviam lhes contado estava completa, se eles sabiam de toda a verdade, se alguma coisa não havia sido maquiada. E isso os fez olhar para os lados, perguntando por que a população negra sofria discriminação e não tinha acesso aos mesmos direitos que a população branca. Ou por que os indígenas, primeiros habitantes daquele país, estavam destituídos de sua dignidade. Ou ainda por que tanta desigualdade entre ricos e pobres em um país que apregoava ser o lugar das oportunidades iguais.

Os questionamentos levaram ao movimento: o movimento de ir ao encontro do não-convencional, do desconhecido que sempre estivera ali, ao lado deles. E assim começava uma revolução dentro dos Estados Unidos que nem a Guerra Fria foi capaz de dar conta.

A história da segunda metade do Século XX, sem dúvida, tem os jovens em seu centro. Por vezes, eles são os protagonistas, por vezes, eles são o target da vez para o mercado. O fato, porém, é que a geração da década de 50 dá início a um processo sem volta, de transformação e ressignificação cultural através de expressões artísticas que escreveriam a história deste tempo de forma, no mínimo, peculiar. Primeiro, aparece a geração que se encanta pelo Jazz e pelo Blues – músicas absolutamente marginais e malditas naquele contexto – além de tomarem contato com filosofias orientais e resolverem cair na estrada em busca de algo que eles não estavam interessados em saber o que era.

Disso veio o Movimento Beat, com sua poesia e literatura imoralmente sublime. Os Beats revelaram a face oculta dos Estados Unidos e, aliados aos músicos Folk, organizaram a crítica social de seu país. Como festejar e dançar talvez seja a mais contundente forma de crítica, nascia ao lado dos Beats, ainda que sem a aprovação deles, o Rock’n Roll. O ritmo dançante, com seus emissários escandalosos, invadiu a sala das casas de classe média, horrorizou famílias, escolas e igrejas – mais ou menos nessa ordem –  e anunciou o fim do mundo. E o mundo terminou mesmo. O futuro do pós-guerra foi se tornando uma visão cada vez mais caduca de vida, sendo sepultado pela geração seguinte, que se recusava a ir para a guerra.

A utopia Hippie coloriu um mundo careta e determinou que, a partir de então, era proibido proibir. Por acaso ou não, surgem nos Estados Unidos durante a sangrenta Guerra do Vietnã, enquanto boa parte do terceiro mundo padecia sob ditaduras militares. Os Hippies fizeram o mundo parar em 1969, no festival de Woodstock, mas a partir dali se perderam em seus próprios ideais. Na sequência veio uma geração desiludida e niilista, que revelou ao mundo a face autodestrutiva da sociedade em que viviam. Os Punks eram agressivos, na medida em que catalizavam e expressavam a agressividade com que eles mesmos eram tratados. Simultaneamente, nascia o Hip-hop, que vinte anos depois dominaria o mundo com as sonoridades, rimas e ritmos de uma população que chegou ao continente americano na mais degradante das condições a que o ser humano pode ser submetido.

Cada um desses movimentos, protagonizados por alguma geração de jovens e cooptados pelo mercado cultural, é uma parte de algo maior: a construção de um futuro aberto e provavelmente muito diferente daquele que os adultos da vez imaginavam. Dessa tensão constante, foi composta a trilha sonora que conduziu o Século XX ao seu fim e viu nascer o Século XXI. Uma trilha sonora por vezes dançante, por vezes contemplativa, às vezes suave, às vezes contundente. Uma trilha sonora de muitas vozes e instrumentos, de muitas performances e silêncios, de discursos e negação de discursos. Nossa trilha sonora, que não precisa ser decorada, mas compreendida em suas diversas sonoridades, para que possamos dar nosso próprio compasso à história.

Para saber mais sobre a história dos movimentos sociais da juventude através da música, convidamos todos para o curso on line – Música e transformações sociais – memória social das juventudes. Para saber mais acesse o site da Universidade Livre Pampédia:

https://www.universidadelivrepampedia.com/cursomusica2020

O curso acontece nos dias 27 e 28 de julho, 03 e 05 de agosto de 2020, das 20h00 às 22h00 (totalmente on line, pelo Zoom).


Renato Ferreira Machado é doutor em Teologia pelas Faculdades EST, mestre em Teologia e  especialista em Ensino Religioso Religioso pela PUCRS. Pesquisa a correlação entre religião e cultura no campo de produções artísticas de cultura pop como histórias em quadrinhos, cinema e séries. Pesquisa a mesma questão na história dos movimentos culturais do Século XX e na música regional do RS.

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