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O futuro promissor do nosso planeta, segundo Carlota Perez


A pesquisadora Carlota Perez acredita que estamos no meio de um processo de transformação econômica e social que pode nos levar a uma nova era de ouro, só que dessa vez em escala global. Esse exercício de futurologia se baseia em outros movimentos da história que tiveram características semelhantes – as revoluções tecnológicas.

Ela cita as 5 revoluções tecnológicas dos últimos 240 anos. A primeira revolução industrial (na Inglaterra) de 1771 mecanizou o que antes era manufaturado. A segunda de 1829 (ainda centrada na Inglaterra) introduziu máquinas movidas à vapor, o carvão como combustível, as estradas de ferro como meio de distribuição e o telégrafo como meio de comunicação.  A terceira de 1875 (em diversos países) trouxe a eletricidade como energia, o uso abundante de aço na engenharia civil e naval (esse terceira revolução é marcada pela maior interação entre os hemisférios sul e norte, acentuando a construção de um mercado global).

A quarta revolução (de 1908) é a da linha de produção (fordismo), do petróleo, do plástico, da produção em massa, do telefone, do rádio, dos aviões. As consequências dessa quarta revolução tecnológica, que teve seu período de ouro depois do fim da segunda guerra mundial, são hoje os problemas que tentamos solucionar –  consumismo, poluição, aquecimento global. A quinta revolução é a que estamos vivendo, dos computadores, da comunicação instantânea, dos robôs. Mas segundo Carlota Perez ainda estamos na metade desse processo.

Cada uma dessas revoluções teve dois movimentos – primeiro de mudança de paradigma tecnológico e econômico, e depois de mudança de paradigma social e institucional. Essa primeira fase é iniciativa de indivíduos (empreendedores) alimentados pelo capital financeiro (investimentos privados), o que gera uma bolha de prosperidade (concentração de renda). A virada para a segunda fase se dá com o rompimento dessa bolha que traz recessão (como a crise de 1929, no caso da quarta revolução, ou a falência das empresas que construíram as estradas de ferro no caso da terceira). Nos últimos anos tivemos crises econômicas resultantes de bolhas e poderemos ainda ter outras mais intensas até que se faça a transição de uma fase para a outra.

A segunda fase se caracteriza por uma ação do Estado que reorganiza, redistribui e direciona aquela tecnologia para todos, promovendo um crescimento econômico significativo (o Estado de bem-estar social nos Estados Unidos nos anos 1930 e na Europa no pós-guerra promoveram a maior prosperidade da história humana). O ciclo da quarta revolução tecnológica terminou e foi desmontado pela desregulamentação dos mercados encabeçada pelos governos de Ronald Reagan e Margaret Thatcher nos anos 1980.

Outra característica que se repete nesses ciclos de revolução tecnológica é o tipo de pânico que emerge nessa transição (rompimento da bolha) de uma fase para a outra. Nesse interlúdio emergem sentimentos de xenofobia insuflados por figuras populistas messiânicas, que se alimentam da desesperança, da desigualdade, do desemprego estrutural, das ondas de imigração. Foi assim depois de 1929 e o resultado disso foi a acensão de figuras como Hitler e Mussolini, e duas guerras mundiais.

Mas existem ainda outros sinais nessa comparação entre as várias revoluções tecnológicas. Para que esse futuro promissor pós recessão se concretize, ele precisa ser idealizado primeiro e esse ideal tem que ser objeto de desejo das pessoas. Esse futuro é o que Carlota Perez chama de good life (vida boa). Na segunda revolução tecnológica esse ideal era o modelo vitoriano de vida urbana que se contrapunha ao modelo de vida aristocrático/rural. Na terceira revolução o modelo era a vida cosmopolita da Belle Époque europeia. Na quarta era vida no subúrbio das cidades norte americanas (o american way of life dos anos 1950).

Hoje esse modelo pode ser (se quisermos que ele seja) uma vida ecologicamente sustentável. Para Carlota Perez a base desse novo modelo de vida sustentável é pegar a ideia de produto (criada pela produção em massa da quarta revolução) e transformá-la em serviço (não seremos mais proprietários de nada). Nesse novo modelo, o foco está na energia renovável, em materiais biodegradáveis, no reuso e na reciclagem, mas também no incentivo à prevenção de doenças (alimentação saudável, exercícios físicos), e no estimulo à criatividade (com uma proposta de educação muito mais diversa, ampla e flexível do que o formato de escola/universidade que temos hoje).

Na análise dela, essa mudança de paradigma acontecerá se esse novo modelo for adotado pelos governos (e no contexto de globalização que vivemos, isso pode vir de um governo global supra nacional). Serão as políticas estabelecidas por esses governos que vão guiar o mundo para fora do período recessivo de transição em direção a uma nova era de ouro de crescimento e prosperidade global. A diferença é que como a essência da quinta revolução é a velocidade da informação e da comunicação, o debate e a tomada de decisão que pode nos levar para esse futuro, terá a participação de muito mais vozes.

Nós não seremos apenas meros expectadores, que apenas se adaptarão ao novo paradigma. Pela primeira vez podemos ser aqueles que vão escolher o caminho a seguir. Precisamos ampliar nossa leitura de mundo e nossa atuação política para vencermos os interesses daqueles que não querem a mudança (e que alimentam as inseguranças das pessoas diante das incertezas que emergem na transição de um modelo para o outro).