Utopias – por uma inspiração socialista Árabe

Em mais um interessante artigo do The Guardian sobre UTOPIAS, o diretor da ONG Reprieve, Clive Stanford, que trabalha oferecendo ajuda jurídica para pessoas que sofrem de severas violações dos direitos humanos, nos fala sobre as consequências negativas da falta de um discurso utópico. Para ele, só avançaremos se pudermos inspirar as novas gerações, e para isso precisamos de uma utopia que nos abrace a todos.

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Ele começa falando de forma geral que, no mundo de hoje, os lideres políticos não conseguem se agarrar a um sonho que não seja o de chegar (eles mesmos) ao poder. Para realizarem sua própria utopia individual, eles prometem respostas enérgicas e pontuais, pragmáticos choques de gestão e cartilhas de prevenção, que parecem mágica para os eleitores, mas que não são capazes de estimular a construção de um futuro.

Para Clive, os líderes atuais não nos oferecem nada, não nos conduzem a lugar nenhum. Eles constantemente dizem que suas decisões políticas são difíceis, e são mesmo principalmente porque eles não têm um farol diante deles para iluminar o caminho. Se nossos líderes não tem inspiração, como podem inspirar os outros? Como resultado, aqueles que têm sonhos perversos têm um campo aberto à sua frente, seja Donald Trump e seu plano xenófobo para “tornar a América grande novamente”, ou Osama bin Laden e sua bizarra promessa de que os muçulmanos sunitas alcançarão a vida eterna matando apóstatas e não-crentes.

Como um exemplo mais pontual, ele cita a primeira ministra britânica Theresa May. Num dia, ela apoia Barack Obama em uma ação militar contra Bashar al-Assad por causa do uso de armas químicas contra seu próprio povo, e então, às vésperas de seu encontro com Donald Trump, ela sugere que Assad deva concorrer à reeleição; noutro ela se opõe a uma legislação sobre igualdade de gênero e logo em seguida ela mesma propõe tal legislação. Ela não só não defende uma ideologia, ela parece não ter uma visão para seu país e para o mundo.

Para ilustrar de forma ainda mais concreta, Clive nos fala de um programa que foi proposto por May ainda antes dela ocupar o cargo de primeira ministra. Desde 2011, o programa Prevent – Educate Against Hate (Prevenção – Educação contra o ódio), oferece uma cartilha para as escolas impedirem que jovens desiludidos se associassem ao extremismo islâmico. Para Clive Stanford o problema dessa cartilha é que ela não oferece uma visão positiva que cative a atenção desses jovens. O foco é apenas identificar os sinais de alienação de indivíduos de determinados grupos étnicos e religiosos para em seguida oferecer aconselhamento e empoderamento. Segundo Clive, essa abordagem é problemática porque se ela não atinge seu objetivo (muitos jovens não aderem a essa intervenção), os políticos se voltam para armas para derrotar o “extremismo islâmico”. Portanto, não se oferece nenhum sonho alternativo para a alienação e o extremismo, apenas a opção de se ajustar ao modelo de uma sociedade que também é problemática.

A proposta de Clive para o extremismo é reascender o Baathismo, uma utopia socialista e etnocêntrica (pan-árabe) que nasceu em meados do século XX e ganhou apoio popular, oferecendo uma visão de uma nova sociedade secular, livre dos grilhões do domínio colonial. A visão do Baathismo também foi pervertida pelo Assadismo, Saddamismo e pelo Coronel Gaddafi, assim como o comunismo na União Soviética acabaria por ser irreconhecível para Karl Marx, mas sua ideia essencial está de acordo com os elementos-chave de um mundo onde a meta é eliminar a desigualdade nos concentrando em ajudar aqueles que nos rodeiam em vez de nós mesmos.

Em seu artigo, Clive Stanford nos diz que sem qualquer tipo de ideal, sem qualquer visão de como o mundo pode ser melhor, certamente estamos perdidos. Os céticos podem dizer que isso não é realista, mas sua crítica não se sustenta: a noção de que um ideal é de alguma forma certificado como a realidade do futuro, não tem sentido. Por definição, a utopia nunca será alcançada: a palavra original de Thomas More significa “nenhum lugar” em grego. Aqueles que pensam que isso pode ser provocado pela revolução são duplamente tolos. No entanto, podemos tomar medidas na direção certa, mas se não tivermos um objetivo, um ideal, não saberemos para onde estamos tentando ir.

Assim, na sua equivocada “guerra global contra o terror” – independentemente do eufemismo que eles usam para descrevê-lo – os políticos de todas as partes falham em seu dever mais óbvio: oferecer uma alternativa inspiradora. O idealismo também é parte integrante do combate às visões distópicas de Donald Trump, Marine Le Pen e até mesmo Osama bin Laden.

Mauricio Zanolini

Nota da ULP – no mês de outubro termos dois cursos (on line – pelo facebook) que tocam nos temas levantados nesse texto. A série Temas Políticos vai falar de SOCIALISMO, conceito abrangente, que data do início do século XIX e nasce como uma reação ao estado de miséria e exploração dos trabalhadores das fábricas no período da Revolução Industrial. E na série Tradições, Livros e Espiritualidade, vamos falar do ALCORÃO, o livro sagrado do islamismo. Participem! (cliquem nas palavras em azul para saber mais).

 

 

 

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