Em tempos de debate sobre o modelo de ensino médio, foi muito feliz ir à VI Olímpiada de Filosofia do Estado de São Paulo, evento anual que esse ano propôs para discussão o tema Por Uma Filosofia do Encontro: Qual o Lugar da Diferença?
O evento foi aberto à participação das escolas das redes privada e pública de São Paulo! O público se concentrou nos alunos mais velhos, do ensino médio; os organizadores têm como objetivo trazer reflexão e olhar crítico ao dia a dia dos jovens.
Eu participei de uma oficina e de um debate.
A oficina foi a Arte de Pensar. A proposta era uma dinâmica em que fotos impactantes de eventos suscitassem discussões entre o grupo. As fotos foram diversas, tais como refugiados, fome na África, moradias miseráveis, e a foto emblemática da Parada Gay em que havia um travesti crucificado.
A fala dos jovens teve um ponto em comum, o quanto cada foto gerava empatia ou não, e o tipo de reação suscitada. A conversa foi conduzida para o questionamento sobre o quanto de revolta e indignação do que se vê no dia a dia consegue se transformar em ação de mudança. A reflexão sobre essa condução foi a constatação que a velocidade com que os fatos se sucedem não permite o devido pensar a respeito; as notícias de hoje não reverberam por mais do que 24 horas. As notícias que receberemos amanhã serão apresentadas com tanta intensidade que aquilo que nos comoveu ontem e atingiu nossa emoção não passa disso, pois a reflexão foi interrompida, sobrando a superficialidade e a banalização.
O debate foi livre, só com um mediador, uns cinquenta jovens, com um relacionamento horizontal. Os textos de apoio do evento foram produzidos pelos alunos participantes, para o debate foram lidos trechos de cinco dos dez escolhidos, os temas destes textos estavam ligados à liberdade e à igualdade ou a falta dela.
As discussões dos jovens podem ser pontuadas em três pensamentos: o mundo é injusto; o mundo é injusto, mas não deveria ser; e o mundo é injusto porque a desigualdade é uma regra.
Os jovens estão visivelmente em conflito com eles mesmos e com o mundo, querem um mundo melhor, mas se sentem impotentes, percebem um dilema entre o Ter e o Ser. O Ter é a ordem estabelecida, onde a desigualdade, o consumo, o mundo dividido entre aqueles que têm e se acham merecedores se opõem aos demais perdedores. O Ser se sintoniza com a vontade de um mundo diferente da ordem estabelecida, com valores inversos e espaço para que as relações se estabeleçam sem medos e estigmas de qualquer ordem.
Interessante notar que a forma Ter preconizada nos dias de hoje pelo capitalismo, hegemonicamente, em nossa sociedade, parece ser a única forma de se organizar a sociedade. Toda a reflexão sobre liberdade e igualdade elaborada pelos jovens foi embasada pelo olhar do capitalismo; esse fato, pelo que observei, é o ponto gerador do sentimento de impotência que paira sobre essa geração.
A experiência na oficina e no debate me levou a pensar sobre a educação integral do ser, aquela com o objetivo que esse ser seja autônomo e ocupe seu lugar no mundo de forma consciente; a partir daí pontuei algumas reflexões:
– A leitura do mundo é interdisciplinar, o educando na escola não está lá só para aprender ou e se especializar em uma área do conhecimento; mesmo que um jovem tenha habilidades e vocações evidentes em determinada área, é necessário que uma gama de assuntos seja apresentado, aumentando a percepção sobre o mundo em que se vive.
– O mundo é inteligível, significa dizer o mundo é como é por meio de ação intencional da força de grupos. Havendo uma intencionalidade, é possível inquerir sobre a origem das coisas e fazer disso um hábito.
– O capitalismo se estabelece como teoria hegemônica e organiza toda a sociedade, porém a hegemonia quase sempre é um problema em qualquer área do conhecimento humano, e no caso do capitalismo há problemas de ser apresentado como fato consumado. Outras visões de mundo devem ser conhecidas e debatidas, de forma a melhorar o alcance dos jovens no entendimento do mundo e da possível forma de ação.
A linha humanista do conhecimento tem seu espaço e importância na formação integral do jovem. Os discursos desenvolvimentistas alinhados às premissas de capitalismo, com sua entidade O MERCADO se mostram fracos frente às angústias, dúvidas e questionamentos do jovem.
Pelo que vi, parece-me que o jovem anseia por respostas que permitam que ele dê passos na direção de um mundo mais justo e igualitário, algo que não combina com a visão que eles não passam de consumidores que precisam girar as engrenagens da economia.
Mudanças na educação são necessárias, desde a infraestrutura, valorização da carreira de professor, novas formas de ensinar, e um novo jeito de enxergar o jovem, não como alguém que necessite ser preparado para o mercado de trabalho, mas alguém que vai ser atuante na sociedade seja qual será sua ocupação. Para tanto, muito dos medos e inseguranças que o aflige precisam ser trabalhados para que essa atuação seja para um mundo melhor, possível de ser implementado.
Alexandre Mota
Sua exposição mostra uma inquietação muito grande dos jovens.
Já se vê uma luz no fim do texto Alexandre?
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Importante reflexão-ação. Será que os jovens não querem nada?Diante do relato acredito que não. O que não se quer é o que está posto.Sempre aprendendo com vocês,obrigada.
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