Nascimento de Universidades – da Idade Média ao século XXI

Cena da Universidade Medieval
Cena da Universidade Medieval

Jacques Le Goff, o grande historiador francês, descreve em seu livro Os Intelectuais e a Idade Média, que quando a Universidade nasceu, mais ou menos mil anos atrás, não era esse modelo engessado de hoje. Professores promoviam debates públicos, alunos vinham de outras cidades para desafiar doutores famosos, com perguntas e problemas.

O nascimento das Universidades foi um momento de ricas trocas e de discussões abertas. Talvez os temas predominantes teológicos de então não fizessem sentido para nós hoje, mas esse dinamismo a que se assistiu no início dessa milenar instituição, hoje está ausente das aulas tradicionais e paradas. No filme Em Nome de Deus, que não é nenhuma superprodução mas é fiel historicamente, mostra o filósofo Abelardo, dando aulas, em diálogo com os estudantes, na iniciante Universidade de Paris.

É verdade que também na Idade Média, nasce a hierarquia acadêmica, essa mesma que se mantém até hoje, de forma muitas vezes autoritária. O que nos remete a uma reflexão: guardamos aspectos que já deviam ter sido superados da Universidade Medieval e não temos às vezes os elementos vivos da hora que ela nasceu.

Agora que estamos modelando a proposta da Universidade Livre Pampédia, vemos que já temos trabalhado por ela e nela há muitos anos e nos remetemos a um novo nascimento.

Quando cheguei recentemente de um almoço para continuar a aula da tarde, na 9ª turma da pós de Pedagogia Espírita, defrontei-me com os alunos sentados entusiásticos na varanda do Espaço Pampédia, em volta de um café e de uma questão que um deles havia levantado.

A pergunta era provocadora e poderia ser dirigida a um católico, a um protestante, a um espírita e mesmo a um ateu: “que você faria se você morresse e não encontrasse nada do que esperava encontrar?”

Não houve mais aula, no sentido convencional do termo – se é que fazemos alguma aula de forma inteiramente convencional. Mas nos deixamos ficar ali, a tarde toda, na varanda ensolarada, e passamos por temas filosóficos, teológicos, sociais, religiosos, com falas, perguntas, trocas, emoções, clarões. Não faltaram poemas e leituras, música e uma meditação final.

E como no dia anterior, havia contado de nosso projeto da Universidade Livre Pampédia, ficamos todos comovidos ao constatar que ali a tínhamos de certa forma estreado.

Na verdade, ela vem acontecendo desde sempre. De múltiplas formas. Nessa pós de Pedagogia Espírita, com conteúdo teórico denso, profundo, mas acessível a todos, há sempre debates livres, participações múltiplas, tanto de professores de correntes divergentes, como de alunos de origens e ideias diversas. Há um impacto existencial na vida de quem desse curso participa, porque se criam laços de afeto, se ampliam visões, se quebram paradigmas e se fazem experiências diferentes de conhecer o mundo.

Então, dentro da limitação de uma pós, e de uma pós reconhecida pelo MEC, que precisa seguir certas regras (por isso, por ora, vamos dispensar reconhecimentos do MEC, para sermos mais livres e criativos), a pós de Pedagogia Espírita, que já está na turma 10, tem sido um ensaio fecundo de Universidade Livre. Agora, vamos concretizar com mais precisão essa ideia.

Varanda

E assim se expressou Cláudia Lança, uma das integrantes da turma 9, que estava naquele dia, em nossa varanda (retiro as referências à minha pessoa):

Ter aula das 09h00 às 17h00 de um sábado e domingo?
Uma das minhas melhores escolhas: iniciar a Pós em Pedagogia Espírita. Ontem foi um dia ímpar. Algo grandioso e diferente. Um prazer moral. Que me embarga a voz na tentativa, sem sucesso, de traduzir e compartilhar minhas emoções.
Nos reunimos na varanda do
Espaço Pampédia, “meio despropositadamente”, mas inteiramente entregues.
(…)
Não sou a mesma pessoa desde o primeiro instante da primeira aula no ano passado.
Meus planos crescem. Novos anseios. Ainda tímidos, mas absolutamente libertadores.
Não posso habitar o mundo que habitava.
Eu quero mais!

Para isso serve a Educação, para nos desalojar dos mundos habituais e nos lançar a anseios novos e libertadores!

Dora Incontri

7 respostas para ‘Nascimento de Universidades – da Idade Média ao século XXI

  1. Parabéns Dora por mais esta iniciativa. Com certeza reunir todas as semanas um grupo de pessoas interessadas em ampliar os seus horizontes de conhecimentos, não só para o crescimento individual, mas também para dispostos a contribuir para crescimento do próximo, não tem preço, mas tem muito valor!

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  2. Eu acredito pela lógica do raciocínio, que a frente, a doutrina dos Espíritos, possa fluir sem nenhum tipo de influência
    atávica cultural, já bem enxertada na doutrina dos espíritas.É uma vergonha, século 21 com tanta incoerência e ainda
    há a existência do acomodamento diante da vida.
    Uma universidade distinta de todas é um escândalo para o despertamento e isso é uma oportunidade pra deslanchar.
    A tecnologia avançou, o ser desumano está estacionário, até quando ?Alan Kardec disse uma frase que ficou famosa:
    Eu digo o seguinte: Fora do estudar, nunca saberemos o que de fato venha a ser o AMOR que tanto falamos !

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  3. Dora foi um prazer enorme ouvi-la em Juiz de Fora. Estou aqui aguardando os novos passos dessa pedagogia espírita dentro da qual terei a alegria de estudar e aprender. Abraços. Maria Célia Carneiro Werneck

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  4. Audaciosos amigos,
    Que essa corrente de elos bonitos e firmes, permaneçam juntos para garantir um belo e novo porvir, e que eu faça parte dela.
    Parabéns!
    Cícero

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