Nos primeiros meses de vida da criança, ainda como feto, na barriga de sua mamãe, ela está bem acolhida e confortável, suprida por inteiro, ela se desenvolve numa sinestesia perfeita. Então, o tão esperado parto chega e junto com ele, o primeiro luto da criança: o ambiente está muito gelado, a luz intensa sobre seus olhos recém abertos, o afastamento inicial de sua mãe, e seu choro de desespero é amplamente comemorado. Afinal, seus pulmões estão perfeitos. E a vida segue seu rumo, a família acolhe o bebê, enche de colo, beijos e atenção, o novo integrante de seu lar. Nesta fase, a criança quer se sentir cuidada e segura, ela confia plenamente em seus genitores, ela ainda não se vê como ser independente, é como se fosse a extensão do corpo do adulto. Seu maior prazer? Se alimentar, de preferência dos seios de sua mãe.
Sendo assim, já fica fácil adivinhar seu próximo luto: o desmame. Agora, ela percebe que os alimentos podem vir de outras fontes e que podem ser servidos por outras pessoas. A socialização com outros familiares se torna maior e ela vai se desenvolvendo mais. Seu olhar está mais atento aos acontecimentos ao seu redor. Geralmente, nesta fase, os pais voltam a trabalhar e aparece então mais um luto na criança: o abandono. Nas opções modernas, a criança vai para creche ou então contrata-se uma cuidadora. E ela forte e guerreira como é, continua a desenvolver-se após os lutos iniciais.
Essa criança aprende a andar, a falar e passa a se perceber como um ser ativo, independente e cheio de vontades. Nesta fase, ela com mais autonomia começa a se expressar, e aí vem mais um luto: as birras! A família entende essas manifestações naturais do desenvolvimento como afronta e já inclui castigos e até mesmo palmadas. Então, nesta sequência de lutos, a criança percebe que viver por aqui, não é fácil! Muitas, após os 3 anos, se recusam a crescer e apresentam recaídas, voltando a usar fraldas ou falar como “bebês”. É necessário um olhar mais atento para estes lutos manifestados pela criança ao longo de sua infância visando supri-las em suas emoções e necessidades afetivas.
É importante que a educação das crianças não se torne um ato mecânico e rotineiro. Respeitá-las em todas suas fases de desenvolvimento é um pressuposto do amor. Pestalozzi, um dos maiores educadores que a humanidade já teve, já enfatizava uma educação voltada a Teoria do Amor: “A formação elementar da natureza humana é a formação da espécie para o amor; obviamente, não para um amor cego, mas para um amor vidente.” E ainda deixou um legado às mães: “…Tudo o que eu pediria a uma mãe seria que ela fizesse operar seu amor com a maior força possível, e todavia o regulasse com reflexão”. E com estas sábias palavras, deixo o convite à reflexão na educação de nossas crianças: que ela brote não ao acaso, mas nas raízes conscientes de nossos corações. Assim como os grandes mestres espirituais fazem conosco, que nós tenhamos todo amor, paciência e sabedoria para orientá-las, tornando os lutos naturais, leves e evolutivos.
Jamile Tupinambá