Quanto mais negamos e adiamos medidas de contenção para esse cenário, mais o quadro se agrava, pedindo ações cada vez mais drásticas. Hoje a nossa capacidade de processar dados nos permite enxergar com muita clareza quais são os pontos mais sensíveis do problema da emissão de gases, abrindo assim uma possibilidade concreta para corrigirmos a rota. A questão é que para isso temos que superar forças poderosas como o poder econômico da indústria do petróleo, a cultura ancestral do consumo de proteína animal, as guerras comerciais entre os países, o lobby da indústria de alimentos, etc.
Uma dessas medidas radicais que teria um impacto significativo na redução de emissões tem relação com o consumo de proteína animal e derivados de leite. O impacto negativo das fazendas de animais para abate e produção de leite perde apenas para a capacidade poluidora da indústria do petróleo (considerando todo o impacto dessa indústria, da extração do óleo e do gás, até a produção e queima de combustíveis, de plástico que não se degrada, etc).
A produção de proteína animal consome globalmente quantidades absurdas de água potável, polui e empobrece o solo, emite gás metano na atmosfera, consome metade do antibiótico produzido no mundo, além dos custos com os problemas de saúde causados pela ingestão de carne como o câncer (aves e peixes inclusos). Os metadados mais recentes apontam que a proteína animal representa 18% do consumo de proteína da população da Terra, mas ocupa mais de 80% das terras destinadas à produção de alimentos (incluindo tudo o que se planta).
O jornalista e cozinheiro Mark Bittman defende a redução do consumo regular de carne na nossa alimentação. Nesse TED de 2007, ele nos mostra que o consumo de proteína animal está diretamente ligado ao estilo de vida ocidental, e que tem como efeito doenças como diabetes, doenças cardíacas, infarto e alguns tipos de câncer. A indústria alimentícia que usa a publicidade para nos vender praticidade e sabor, nos instiga o desejo, fazendo com que nosso consumo de calorias e de proteínas seja muito maior do que o necessário.
Mas nós não precisamos de carne para sermos grandes e fortes? Comer carne não é essencial para a saúde? Uma dieta rica em frutas e vegetais não vai nos transformar em fracotes? – pergunta Mark Pittman. Segundo pesquisas médicas sobre redução de doenças, pessoas adultas só precisam de 225 gramas de carne por semana, mas hoje esse é o nosso consumo diário (em média).
Apesar da distância entre as forças econômicas e a nossa atuação como indivíduos no cotidiano, nossas ações influenciam os processos e as escolhas desses conglomerados industriais, e por isso cabe a nós nos informarmos com profundidade sobre nossa alimentação. Reduzir o consumo de carne é mais impactante para a sustentabilidade global do que usar transporte público ou reciclar o lixo, mas não vemos campanhas sobre isso porque os interesses econômicos são muito fortes.
Projeções do crescimento populacional para os próximos 10 anos, somados ao aumento de consumo de alimentos por países que hoje são exportadores de alimentos como a Índia, por exemplo, vão aumentar a demanda por calorias e proteínas. A pressão sobre terras ainda não usadas para a agricultura e a pecuária, como florestas, vai subir, e as consequências ambientais disso vão impor pesados tributos aos produtos cuja produção tiver mais impacto negativo no equilíbrio do planeta. Em poucos anos o preço da carne será proibitivo para a maior parte da população e então não teremos mais a possibilidade de uma escolha consciente.
Comer não pode ser só sobre prazer, compensação de frustrações e memória afetiva. Temos que pensar na comida de maneira racional, como fonte de saúde para nós e para o planeta. O crescente mercado de alimentos para veganos e vegetarianos pode nos ajudar a consumir menos proteína animal, mas para isso precisamos construir uma relação mais consciente com o que colocamos em nosso estômago.