Distopias – será que estamos mergulhados em uma?

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Desde o ano passado escrevo aqui no blog da Universidade Livre Pampédia uma série de textos sobre Utopias. A ideia é apresentar possíveis soluções para os problemas que enfrentamos hoje, sejam essas soluções inéditas, ou ainda não testadas numa escala maior, ou ainda ideias óbvias que sofrem boicotes e resistências devido a interesses diversos de grupos pontuais. Mas olhando para os problemas que essas ideias propõe consertar, ficamos com a sensação de que nossa realidade é uma distopia – o espelho  corrompido da utopia.

Distopias são cenários onde nossas expectativa sobre o futuro, que formulamos em algum ponto do passado, não se concretizaram. Em resumo – deu tudo errado e agora temos que viver num cenário adverso, opressor, escasso e desumanizante.

A ficção, na literatura, no cinema e hoje sobretudo nas séries produzidas por canais de tv via streaming, sempre deu voz a essas distopias, especialmente nos momentos em que a realidade parece caminhar mais resoluta na direção do pesadelo. O romance 1984 escrito  por George Orwell em 1948, se passa num cenário distópico de controle absoluto dos indivíduos pelo Estado (o Grande Irmão). Orwell usou a ficção para fazer um comentário crítico sobre as divisões de força do pós II Guerra Mundial, o conflito ideológico da Guerra Fria e a manipulação das massas através da cultura (mídia). Na ficção, a distopia é uma alegoria que, na verdade, fala do presente.

Hoje estamos mergulhados em narrativas. É literalmente impossível acompanhar a vasta produção de séries, filmes, livros, quadrinhos e games que nos transportam para cenários dos mais variados. Se somarmos a isso o contexto de liberdade que a comunicação instantânea e a globalização nos proporciona, temos uma overdose de ficções distópicas apontando para todo tipo de questão mal resolvida do presente, à disposição de todos, 24 horas por dia.

Essa inflação de distopias na ficção reforça a ideia de que estamos totalmente imersos em uma. Esses cenários sem esperança, que no passado (como o livro de Orwell) nos alertavam para os perigos de nossas escolhas, hoje nos paralisam. Diante de um cenário sem nenhuma esperança como um apocalipse zumbi, onde a única opção é matar para não ser morto, perdemos a metáfora e nos afundamos num debate sem nexo sobre liberação de porte de armas, por exemplo.

É esse extremismo de opiniões nas redes sociais, de soluções fáceis de governantes que querem ser reeleitos a todo custo, da manipulação ideológica de grupos que se fortalecem demonizando outros grupos, e das neuroses que todos nós carregamos e que nos deixam sucetíveis a essa ou aquela resposta emocional, que nos dá a sensação é que a distopia é aqui e agora.

Então mais do que nunca são importantes as utopias, o contraponto que nos reascende a esperança de um futuro melhor. As ficções que produzimos hoje querem nos alertar sobre quão terríveis podem ser as consequências das nossas escolhas de hoje. Precisamos olhar para além dos cenários que elas nos apresentam para entendermos quais são as críticas que elas estão fazendo. Quais as possíveis soluções para os problemas que elas nos apontam.

Em próximos textos vou tratar de alguns cenários distópicos que já existem em diferentes lugares do mundo (como o Karoshi, a morte por excesso de trabalho no Japão).  Assim como na ficção, as escolhas feitas por nós no passado criaram cenários extremos que precisam ser encarados de frente. A esperança é o combustível da ação transformadora e cabe a nós manter essa chama acesa.

2 respostas para ‘Distopias – será que estamos mergulhados em uma?

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