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Janelas e espelhos – educando para ampliar a consciência

Em muitas partes do mundo (Brasil incluso), a forma como educamos as crianças está sendo largamente questionada. O modelo escolar não dialoga com a realidade do século XXI, marcada pela velocidade e pelo processamento da informação, pelo avanço da robótica que libera cada vez mais as pessoas de funções repetitivas e sem significado, pela criação de inúmeras novas funções que nunca existiram antes na história. Não existem fórmulas mágicas, mas cada país está lutando para encontrar novas maneiras de equacionar esse tema, que é tão essencial, ou pelo menos deveria estar…

Segundo Joshua Block, educador norte americano que escreve para o portal EDUTOPIA, ignorar os contextos nos quais os estudantes estão inseridos, atendendo apenas ao currículo e às burocracias e testes impostos pelo Estado, é a formula do fracasso. Na visão dele, cada contexto tem suas peculiaridades que devem ser consideradas na maneira como a relação ensino/aprendizagem se dará. Escolas multiétnicas, escolas em áreas de vulnerabilidade social, escolas particulares bilingues de período integral, cada uma delas tem seus desafios, e é preciso o que o educador Chris Emdin chama de Pedagogia da Realidade (inspirada em Paulo Freire e Gloria Ladson-Billings).

Contextos diferentes vão apontar para soluções diferentes, mas Joshua Block nos dá algumas diretrizes para guiar nossas escolhas em sala de aula (e fora dela):

Validar e reconhecer 
Os estudantes não vão se envolver com um trabalho intelectual complexo se eles não sentirem que a voz deles é importante na sala de aula. Dependendo do contexto geográfico / socioeconômico onde a educação acontece, os alunos podem chegar à escola sem ter suas necessidades básicas satisfeitas. No outro extremo, os alunos podem vir de ambientes que estimulam o consumo excessivo. Talvez esses alunos já estejam presos a determinados sistemas de crenças, mais resistentes a ideias diferentes das suas. É possível reconhecer os desafios e lutas que cada um dos alunos enfrenta sem ignorar a luta maior pela busca da justiça social. Qualquer comunidade que pede às pessoas para aprender, para serem abertas e transformadoras (a idéia de Paulo Freire de conscientização), deve ser um lugar onde as pessoas sabem que podem ser honestas e que elas serão ouvidas (seja esse lugar a escola ou qualquer outro ambiente onde aconteça o ensino/aprendizagem).

Expor e revelar o invisível
Janelas nos expõem a realidade das outras pessoas. Para os estudantes que estão condicionados a pensar sobre si mesmos e sobre suas vidas como a norma (definindo para si mesmos o conceito de NORMAL), janelas oferecem o acesso necessário a diferentes realidades e entendimentos do mundo. Estas janelas permitem que os alunos comecem a questionar suas próprias realidades e premissas, e estimulam o desenvolvimento de compaixão e compreensão em relação às vidas e experiências dos outros.

Ninguém deve crescer sem espelhos, sentindo que as suas experiências ou sua voz não têm valor. Para muitos jovens, a representação pública da realidade na qual ele está inserido é negativa ou pobre de substância e complexidade. Criar espaço para que os educandos tenham uma voz pública e possam examinar a própria história é crucial para o desenvolvimento de sentimentos de pertença.

Perguntas
Quando o currículo é desenhado em torno da formulação de perguntas, o cotidiano escolar se abre para a investigação e para o debate. Quando as unidades de estudo e a prática em sala de aula são baseadas em ideias problematizadoras, os professores podem ajudar os alunos a desenvolver o brio intelectual para questionar o que muitos de nós aprendemos a aceitar como dado:

Essas perguntas são janelas e espelhos que incentivam a investigação e ajudam os estudantes a formar uma ideia mais clara a respeito do mundo complexo em que eles vivem.

Refletir
A aprendizagem é muito mais profunda quando os alunos exercitam a metacognição. Oportunidades de reflexão também permitem que os alunos experimentem diferentes emoções no processo de aprendizagem. O debate sobre a injustiça despertou um sentimento de ira?  Será que alguns sentem culpa por sua participação em sistemas injustos, que eles não escolheram ou criaram?  Oportunidades de articular e processar sua própria aprendizagem fazem com que as pessoas partam para a ação transformadora.

NOTA – É importante frisar que os contextos brasileiro e norte americano são muito diferentes, mas os problemas essenciais da educação no mundo são os mesmos, já que os principais fatores que impulsionam essa crítica são mundiais, como a globalização e a tecnologia. Ao buscarem em Paulo Freire as respostas para uma nova forma de educar, os professores dos Estados Unidos nos mostram a atualidade do pensamento desse brasileiro que, por aqui, é tão criticado. Precisamos olhar para a janela e ver o que outros países estão fazendo para repensar a educação, mas é essencial olharmos no espelho para que possamos nos reconhecer nos rostos refletidos de educadores brasileiros como Eurípedes Barsanulfo, Anália Franco, Maria Nilde Mascellani e Paulo Freire.

Mauricio Zanolini