A matéria-prima da Universidade Livre Pampédia são as ideias. Ao contrário do que Marx pensava – que as ideias seriam subproduto da infraestrutura econômica – achamos que elas podem tocar as almas, transformar mentalidades e mudar o mundo. Aliás, as próprias ideias de Marx não tiveram imenso impacto histórico? Aqui em nosso blog da Universidade Livre Pampédia, estamos fazendo um exercício de escrita individual e coletiva para trabalhar ideias de maneira a torná-las amigáveis, compreensíveis e libertadoras.
Como fazer isso? E ao fazer, não haver intenção de manipulação, mas convite sincero à reflexão?
Consideramos em primeiro lugar que as ideias precisam de raízes. Raízes teóricas consistentes, profundas – sem que isso represente complexidade inacessível. A consistência de uma ideia vem de ela ter universalidade, ser partilhada por mentes elevadas de diferentes épocas e diversas correntes de pensamentos e estar à vontade com a ciência e com a razão. Mesmo que sejam ideias e não fatos evidenciados, elas não podem perder o pé no chão, o contato com o real, sob pena de se tornarem delírios ininteligíveis (como aliás muitas filosofias têm se apresentado, sobretudo no último século) e sob pena de não conseguirem atuar na própria realidade – se dela estiverem muito dissociadas.
As ideias precisam ser apresentadas com argumentos racionais, com transparência e clareza, sem com isso deixar de lado a quentura do sentimento e do entusiasmo. A clareza jamais é manipulatória, porque através dela, a ideia se mostra exatamente como ela é, com todos os seus precisos contornos e o interlocutor se sente mais seguro para concordar ou discordar. Na penumbra da ambiguidade, a manipulação se insinua, porque o interlocutor pode comprar gato por lebre e achar que concorda, quando de fato discorda, ou vice-versa. A coerência e solidez de um texto também ajuda a organizar as ideias do próprio leitor.
A clareza racional não exclui a poesia, a metáfora, o estilo bonito, elegante, agradável. Esses elementos podem se colocar como flores na escrita, sem exageros – para não se tornar enjoativa – mas que produzem o bem-estar da leitura e o enternecimento do coração.
A comunicação precisa se revestir de afeto – mesmo quando há necessidade de uma crítica lúcida e certeira, ela não se faz de maneira violenta, ofensiva, desqualificando os que pensam de forma contrária, mas lançando um convite ao diálogo. Ao comunicar-se a ideia, é preciso imaginar como o outro a receberá. Se o ângulo que queremos apontar ficará suficientemente nítido, sem a arrogância condenatória sobre quem vê pelo ângulo oposto.
Quando tecemos ideias, precisamos entrelaçar com delicadeza os fios do amor e da busca da verdade; da energia que denuncia e se indigna com a compaixão que compreende e não deseja ferir.
Nada disso é fácil, nada disso é inato. Requer estudo, treino, autoconhecimento, autoeducação e educação mútua. Aqui, no blog a Universidade Pampédia, os textos passam por vários olhares. Sugestões são dadas e acatadas, revisões são normais, sem ferir o ego de ninguém, pelo simples fato de que a intenção de nossas escritas não é inflar egos e conquistar aplausos, mas contribuir serena, sólida e amorosamente para mudar a educação e, com isso, mudar o mundo.
Será essa intenção excessiva pretensão? Ela não está ancorada numa sensação de onipotência e vontade de dominar as mentes alheias, mas tem as asas do sonho e da esperança, com a certeza de que há muitos e muitos fazendo o mesmo. Com a convicção de que a mudança cairá como um fruto maduro. Mas nós teremos ajudado a fertilizar a terra com a semeadura de ideias boas.
Dora Incontri