Como viver, mais que sobreviver, em tempos de crise?

Im Sommerregen

Não dá para esconder de nós mesmos que estamos num momento de crise. O momento é amplo, histórico, de crise de valores, de esperança, de estruturas sociais, econômicas e ecológicas no mundo. E o momento também é específico no Brasil, de crise política, econômica, religiosa e diria, uma crise que está minando o coração do povo brasileiro.

Muita insegurança, muito nevoeiro, muito ódio destilado de todas as partes, muitos recalques vindos à tona, muita intolerância nascendo e crescendo como praga na lavoura social, alimentada nas redes, cultuada pela mídia.

Falta dinheiro, falta previsibilidade do amanhã, falta trabalho, faltam líderes confiáveis, faltam valores sólidos enraizados na alma das pessoas, falta lastro de fraternidade entre todos.

O que podemos e devemos fazer em momentos históricos como esse?

Em primeiro lugar, sabermos que se trata de um momento. E como todos os momentos, passam. Olhemos acima do horizonte e veremos que as crises são efêmeras. Lembro sempre de uma frase de Gandhi, pronunciada no filme do mesmo nome – um dos meus prediletos. Durante um jejum, em plena luta pacífica com o Império britânico, ele diz: quando me desespero, lembro-me de que através da história, o caminho da verdade e do amor sempre venceu. Houve tiranos, assassinos, e por algum tempo, pareciam invencíveis, mas no final, eles sempre caíram. Pense nisso – sempre!

Em segundo lugar, compreendermos que todas as crises são oportunidades preciosas de aprendizado, superação e, portanto, são alavancas de evolução individual e coletiva. Trata-se, por isso, de aproveitar criativamente das crises, para emergirmos delas, mais sábios, mais maduros, mais conscientes.

A crise generalizada por que passamos deve mexer com todas as estruturas planetárias; a crise brasileira que atravessamos promete talvez ainda alguns maus pedaços pela frente.

Aqui, portanto, gostaria de partilhar algumas recomendações que faço a mim mesma, que fazemos a nós mesmos, na Universidade Livre Pampédia, e que talvez possam ajudar a outros que nos lerem:

  • Nunca perder a visão histórica, que relativiza o momento e nos projeta para além do presente estrito. Manter, assim, a visão de eternidade.
  • Não se desesperar com as dificuldades, pois todas elas são passageiras.
  • Adaptar-se, mudar-se, reinventar-se, diante do sopro das adversidades, mas não ceder nos princípios, não descer do patamar da integridade, mesmo à custa de sacrifícios materiais.
  • Não aderir à violência, ao ódio, à disputa, que divide, aprofunda a crise e gera mais adversidades ainda. Nas crises em que as pessoas se deixaram dominar pelo ódio, acabaram sendo manipuladas por golpistas, tiranos, líderes das sombras, para levar a guerras civis, a guerras entre os povos, a guerras mundiais. Defender-se dentro de si mesmo da violência no pensamento e na palavra é vital para todos.
  • Ser criativo, achar caminhos novos, pensar modelos inéditos de trabalho, cooperação, convivência, solidariedade, para que a crise gere fraternidade e colaboração e não o “cada um por si”.
  • Manter a mente límpida, serena, em sintonia espiritual elevada, porque a força da oração conserva o ser humano inspirado, concentrado e harmonizado.
  • Criar (quem não tiver), valorizar, preservar, sua rede de afetos, de amizades, de pessoas sinceras, afins, voltadas ao bem. Com esses poderemos contar e com esses poderemos contribuir, para que atravessemos as crises de braços dados e mãos entrelaçadas.
  • Não perder o sonho, a esperança, os projetos de vida, o sentido existencial – porque as crises são ventos, tempestades, até tsunamis, mas nosso ideal deve ser a rocha que não se desfaz.

E ao final de todas as crises, sempre haverá um novo céu azul e seres humanos mais fortes e mais fraternos entre si.

E lembramos, para terminar, de nosso grande patrono inspirador, Jan Amos Comenius, que passou pelas crises mais angustiantes na vida – guerras religiosas, perseguições, perda da família, queima de seus livros, exílio… – e transformou tudo isso numa herança de ideias, projetos e luzes, que até hoje servem de diretriz para os avanços e utopias que buscamos na Educação.

Equipe Universidade Livre Pampédia

7 respostas para ‘Como viver, mais que sobreviver, em tempos de crise?

  1. Obrigada, suas palavras acalmaram meu coração, ajudando-o a crer que em tudo há um sentido, e que podermos nos irmanar nos bons propósitos. Obrigada

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  2. Muito bom o artigo. Vale a pena seguir as sugestões. Parabens à Dora pela sua lucidez. Gostariamos de ouvi-la mais talvez pela Mundo Maior. Vamos pensar nisso, Professora? José Argemiro da Silvleira – Riberão Preto

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  3. Agradeço a prezada irmã o texto tão maravilhoso. Será ele o meu norte em uma exposição com o tema: “Crises”. Um abraço e que Deus a abençoe!

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